Adoro a sensação de arriscar num livro, numa história, e sentir-me deslumbrada do início ao fim. A vida invisível de Addie Larue é um misto entre a história do filme “A idade de Adaline”, com Blake Lively e as histórias dos livros de Erin Morgenstern (Um mar sem estrelas e o Circo da Noite).
V. E. Schwab surpreendeu-me e deslumbrou-me, porque eu adoro uma boa fantasia e enquanto nada acontece com a Guerra dos Tronos e a saga de Patrick Rothfuss, vou arriscando quando um livro me “chama”.
Foi o último livro que li em 2024 e deixou imensas saudades de mais histórias assim. A história não é focada em questões LGBTI+, mas na surpreendente vivência de Addie Larue e na sua aprendizagem enquanto ser humano… ou não.
Se gostarem de fantasia arrisquem porque vale a pena, assim como os que mencionei anteriormente de Erin, porque são deliciosos. E para quem andar por Viseu, não se esqueçam de que têm uma livraria nova na rua do comércio, a LIBROS & LIBROS, onde podem adquirir a grande maioria dos livros de que vamos falando por aqui.
Blood, Beach, Betrayal, estreou o ano passado e passou completamente despercebido. Foi classificado como thriller/mistério mas cheirou-me mais a tragicomédia do que outra coisa. O enredo do filme é fraquinho, e confesso que quando me apercebi que o filme era de 2024 fiquei um pouco admirada.
O filme decorre num clube de praia luxuoso, tipicamente paradisíaco um pouco à semelhança da série “White Lotus” para quem vê, e centra-se na jovem nadadora-salvadora que vem trabalhar pela primeira vez para o clube.
Se virmos o filme com a noção de que é uma tragicomédia, até que dá para rir um pouco, sobretudo porque são imensas as situações em que já estamos à espera do que acontece a seguir. Mas nem tudo é cliché, e o filme dá uma volta no final que talvez possa surpreender as pessoas mais distraídas.
Não daria grande pontuação ao filme, sobretudo por se tratar de um filme de 2024, bem recente e fresco, que já devia ter algo mais, contudo se precisam de ver algo leve e que dê para descontrair um pouco estejam à vontade, mas não esqueçam as pipocas.
Alice Oseman, delicia-nos mais uma vez com uma história fora do mundo Heartstopper, livro pelo qual ficou conhecida. É uma história curiosa de ilhas, de mundos diferentes, de visões exteriores e interiores do que podeser ou é a realidade onde vivemos.
Num mundo cada vez mais digital, quem somos afinal?! Somos o que mostramos, apenas, ou algo muito maior, que não se conquista através de teclas, mas num somatório de momentos partilhados, de ações e reações quando nos vemos frente a frente?!
Uma perspetiva curiosa e pertinente sobre as relações, e sobre as vivências que cada pessoa atravessa ao longo da sua vida. Porque talvez exista um mundo muito maior e mais complexo, mas muito mais rico, do que o dos quadradinhos digitais.
The World to Come é um drama baseado num conto de Jim Shepard. O filme estreou em 2020, e ganhou o prêmio Queer Lion de melhor filme com temática LGBTQ do Festival Internacional de Cinema de Veneza.
O filme decorre no século XIX, na fronteira da costa este dos Estados Unidos da América, e começa por descrever a vida de um casal, destroçado pela perda da sua filha. As condições atmosféricas da região são difíceis, com invernos e verões muito rigorosos, sobretudo para quem sobrevive da agricultura e pecuária.
O trabalho duro de uma fazenda e a claustrofobia do isolamento, asfixiam aos poucos Abigail. Mas o mundo deste casal, que vive o dia-a-dia sempre da mesma forma e com pouca comunicação, está prestes a sofrer mudanças muito fortes com a chegada de Tallie e Finney que vêm morar para a sua zona.
O filme vai alternando com conversas entre as diversas personagens e os pensamentos de Abigail, que nos narra um estado de espírito frágil e infeliz, numa espécie de diário, como se houvesse uma necessidade de existir num outro mundo e de uma outra forma.
As raparigas que fui, viaja entre mundos diversos do que poderemos ser. O título deixou-me curiosa desde o primeiro dia, e cada vez que comprava um livro novo com temática LGBTI+ este teimava em me chamar, como quem diz: “É agora?”. Veio na remessa do aniversário e desde o primeiro minuto que me deixou fascinada. O fascínio não se prende por eu o considerar apto a ser um prémio nobel ou algo do género, porque não é, mas não tem de ser sempre assim.
A história desenrola-se à volta de um assalto a um banco e a Netflix gostou tanto do enredo que já está a tratar de realizar uma série com ele! Mas continuando. Uma cidade com cheiro a cidade americana perdida no meio do nada, e eis que o banco onde Nora se encontra é assaltado e ela feita refém. E tudo muda a partir daí. A questão está em saber o que era constante na vida dela!
A história está bem conseguida e nada de pensarem que é algo fútil e sem conteúdo, muito pelo contrário, está assente em alicerces bem complicados e com contornos de vida bem difíceis de lidar. Vale muito a pena ler este livro. E já sabem procurem nas livrarias perto de vós ou na biblioteca do sítio onde moram! Podem sempre optar por adquirir em segunda mão! Vale sempre a pena dar uma nova vida a livros! Nada contra eBooks, mas eu prefiro livros em papel!
Que matéria nos compõe? O que vai dentro de nós? Que tempo nos resta? E o que queremos fazer com ele? Supernova, foi lançado em 2021 e é deliciosamente bonito. Sugestão de uns amigos, porque nem sempre aponto na lista o que devia, e perdeu-se na memória, como outras coisas. Talvez por vezes esquecer coisas seja algo benéfico, dada a quantidade de lixo que o nosso cérebro tende a acumular, contudo, esquecer pode ser bastante doloroso.
A união de Colin Firth e Stanley Tucci em Supernova, delicia pela intensidade da representação. A dor, a esperança que já não tem mais combustível, mas à qual tantas vezes nos agarramos como se fosse um bote salva-vidas.
O filme engloba diversas questões bastante pertinentes de uma forma tão simples e tão bela, que é difícil ficar indiferente. Ao mesmo tempo faz-nos questionar porque é tão difícil respeitar. O direito a viver em dignidade, em consciência e o direito a morrer dignamente, em consciência, ambos não deviam ser esquecidos e deveriam ser respeitados. Pode assistir o filme no Amazon Prime vídeo, não sei se está disponível na Netflix (se estiver deixem comentário) ou adquirir o DVD.
Quem entra pelas portas do Trumps hoje, vê um mundo diferente daquele que se respirava no início dos anos 80. Rui Oliveira Marques, escreveu este livro em 2017 com base em testemunhos sobre a noite “Gay” lisboeta, que muitas pessoas desconhecem e muitas outras já não estão entre nós para relembrar. A abertura do Trumps foi um dos fenómenos que marcou gerações e que continua a mover Lisboa.
É cada vez mais importante a recolha destes testemunhos, da visão das diferentes pessoas que vivenciaram as diferentes décadas que marcaram nó só a noite LGBTI+ em Portugal, mas também o ativismo, a luta pelos direitos, a evolução de mentalidades.
O registo da história em termos de questões LGBTI+, permitirá às diferentes gerações um maior conhecimento sobre a sua própria história, e os percursos que tantas pessoas tiveram que percorrer pela defesa e conquista de direitos, que a qualquer momento, em virtude de mudanças políticas podem ser destruídos.
“20 000 Espécies de Abelhas” é um filme espanhol, estreado em 2023, que tem como tema principal a identidade de género. É através dos olhos de uma criança de 8 anos que se desenrola esta história, mostrando a sua descoberta, enquanto a vemos explorar os seus sentimentos e liberdade. Porém, há mais dois temas crucias: por um lado, as famílias e o quão complexas as relações familiares podem ser, e, por outro, as várias formas de ser mulher.
Além do título, as abelhas estão presentes em toda esta longa-metragem, revelando a importância das mesmas para esta família, mas são usadas, também, com um segundo objetivo: demonstrar a diversidade – de espécies, de pessoas, de sotaques, de línguas, de culturas, de experiências, de vivências – que existe na sociedade.
Um filme comovente que nos conta uma história cheia de ramificações com bastante sensibilidade e que não podíamos recomendar mais!
Escrito em 1998, chegou às livrarias portuguesas em 2009, e para as pessoas interessadas, o desafio é encontrar um volume à venda! Mas não desesperem, pode ser que encontrem em segunda mão em alguma feira do vosso local de residência, Marketplace da wook/facebook ou OLX.
Toque de Veludo é o primeiro romance de Sarah Waters e tal como descrito no livro, é um romance irreverente e sensual sobre Nan King. A rapariga das ostras de Whitsable cuja vida se transforma e a faz serpentear por Londres em meandros que nunca julgou possível.
Escrito de uma forma sensual, desde as primeiras páginas, Toque de Veludo, é talvez a melhor obra de Sarah, e merece toda a atenção que lhe podermos dar. Munido de pormenores no que concerne à personalidade de cada interveniente na história, faz-nos questionar a essência do ser humano e o que existe para além da aparência de cada pessoa. Quantas pessoas somos apenas num só ser?!
Cassandro, estrou em 2023 e mesmo para quem não é fã de desportos de luta, é importante ficar a conhecer as experiências de outras pessoas e as suas vivências. “Cassandro”, é baseado numa história verídica e representa um lutador que apesar de ter crescido e vivido no Texas, nunca se sentiu acolhido e acarinhado a não ser pela sua mãe. Durante a sua infância sofre violência, abusos e ostracização, por ser considerado diferente das outras crianças. E no processo de crescimento “Cassandro” foi descobrindo uma nova forma de ser e estar, que lhe permitia viver de forma mais livre a sua própria essência.
Atravessando a fronteira para o México e lutando, “Cassandro”, entrava num outro mundo, onde era mais feliz e onde por momentos ele podia ser livre, através da sua performance e deixando-se levar pelos aplausos do público.
Gael Bernal está de parabéns pela sua performance e delicadeza na interpretação da usa personagem. Encontramos outras caras conhecidas, como Raúl Castillo da série Looking, e Roberta Colindrez da série Liga de Mulheres.
Uma das surpresas de 2024! Gatos na Noite, não é uma história LGBTI+, mas é um livro com personagens LGBTI+ e onde a existência de cada uma e a sua forma de ser tem um peso bastante importante na história.
Fábio Ventura surpreendeu-me com este livro, no qual tropecei e me chamou a atenção por ser um escritor português na banca dos livros policiais/thrillers, o que me leva sempre a ver o que se esconde por detrás da capa.
Uma família, um mistério por resolver há 23 anos e de repente tudo muda, contudo, algo os une desde muito cedo e não é apenas a relação familiar. Agarrou-me desde a primeira página e quando tropecei em personagens LGBTI+, envolvidas diretamente na história, achei ainda mais curioso.
O livro explora a mente humana e as suas ramificações, numa trama que a cada página se desvenda ao mesmo tempo que se complica, o que torna este livro algo peculiar. Mistérios e segredos envolvem a Casa da Lua, e vocês já sentem curiosidade para os desvendar?
Vejam! Revejam! É a mensagem principal que vos trago hoje! Talvez por ser janeiro, talvez por este tempo cinzento, ser propício a reflexões, a sofás mais prolongados que possam possibilitar ver e refletir sobre o mundo que nos rodeia!
Não sabia ao certo sobre o que escrever hoje! Porque tenho-me dedicado mais às leituras e porque tinha previsto escrever sobre um filme, que por impossibilidades pessoais, não consegui ir ver, infelizmente. E eu só gosto de escrever sobre o que vejo ou leio!
Então corri a lista do baú cinematográfico e eis que me deparei com Disclosure, lançado em 2020, mas que pode ser visto na Netflix, esse canal pago, por isso confirme quem tenha, que isso é coisa que não existe cá em casa!
Disclosure é um documentário fabuloso, que questiona o mundo, as vivências, as experiências, o quanto ainda temos para mudar, ao mesmo tempo que nos mostra os passos que já demos. Sim malta porque nem tudo são Blue-Mondays, mas convém perceber, que o que se tem nos dias de hoje, é o fruto de lutas e trabalho de muitas pessoas. Além de que, como nós podemos observar, em diversos países, desde o Irão, Afeganistão, Hungria, América, entre outros, os retrocessos são reais. O que hoje é um dado adquirido em termos legais pode não o ser amanhã.
Assistam, se puderem, e reflitam! E pensem no que vocês podem fazer para contribuir para a mudança! Porque qualquer pessoa pode ser agente de mudança de forma positiva!

In Memoriam
Romance
20 de Janeiro de 2025
Livro de estreia de Alice Winn, “In Memoriam” transporta-nos até à 1ª Guerra Mundial. Ainda que o romance entre as personagens seja ficcionado, a história é baseada em factos e relatos verídicos, assim como muitas das personagens do livro.
Alice leva-nos a viajar entre as trincheiras da guerra e um colégio privado em Inglaterra, onde a guerra é vista com algum glamour, por quem ainda não sentiu a dor da perda, o penetrar da bala, o cheiro do gás, o horror dos corpos a cair, ou a visão do amontoado de amigos mortos.
A realidade da descrição é deslumbrante, ao mesmo tempo que nos põe à prova, para percebermos as mudanças que cada uma das personagens vai sofrendo ao longo da história, quer em termos físicos, psíquicos e comportamentais.
Esperemos que este seja o primeiro de muitos e que não nos tenha habituado mal em termos de escrita e narrativa, porque está soberbo.
Aquele pesadelo aterrador de ver morrer a pessoa de quem gostamos pode virar realidade e acontecer a qualquer pessoa. Ninguém gosta de pensar ou falar sobre a morte, sobre o luto, sobre ter de lidar com a perda das pessoas de quem gostamos. E são tantas as vezes que se torna inclusive um tema tabu, mais um estigma que a sociedade e as pessoas enfrentam, sem saberem enfrentar.
Good Grief, traz-nos um misto de muita coisa, com interpretações fabulosas, questiona sentimentos, relações, vivências, experiências. Tantas são as vezes que as pessoas julgam que tudo se move numa linha recta, quando na verdade a vida é tão sinuosa como um rio, que ora corre lento e suave, como depressa se transforma num rápido.
Com momentos bastante curiosos este é um filme que vale a pena ver, e que me faz gostar do Daniel Levy cada vez mais.
Yerba Buena, é uma das surpresas boas que encontrei, Nina Lacour saiu do Young adult de uma forma suave e muito bem conseguida. Escrito em 2022, chegou às nossas livrarias em 2023 e já andava de olho nele há algum tempo, mas a lista é longa e por vezes tropeça nela própria!
Nina traz-nos a história de Sara que entra no carro e deixa tudo para trás ainda muito jovem e que se torna num barista de sucesso, e Emilie que coleciona cursos inacabados até que um dia descobre a sua própria identidade.
Cada uma das personagens possui a sua própria bagagem emocional, o seu contexto familiar, as suas vivências, que influenciam todo o seu percurso e irão pesar no seu futuro.
A critica que aparece na contracapa deste livro diz tudo, “(…) uma relação não substitui a necessidade de cada pessoa se amar a si própria” e por isso cada uma terá de se conhecer e de se reconstruir para perceber onde quer chegar e estar.