CULTURA – ARQUIVO 2019

“El Pacto”

Ana Ferreira

22 de Dezembro 2019

Desta vez trazemos algo diferente, um filme que ainda não saiu e que ainda não foi realizado!!!

El Pacto é um projecto que Ana Cavazanna pretende que veja a luz do dia necessitando para isso do vosso apoio. Deixamos o link para que possam aceder à campanha de crowdfunding e contribuir caso pretendam para ajudar na realização deste projecto.

Será produzido pela Terremoto Produções, empresa que tem como missão realizar e produzir filmes, séries, espetáculos, aplicações e formações artísticas, com o enfoque na diversidade e no universo LGBTQI+, segundo informação do link.

Deixo-vos a sinopse da história que consta da informação na página do crowdfunding, por isso os louros do texto são todos para a pessoa que elaborou a página!

“Um romance gay entre dois jovens, o português Daniel e o brasileiro Bruno, que procuram estabelecer-se no mundo da publicidade em Portugal. Uma relação recheada de diversão, amor e sedução que passa a sofrer com a desconfiança gerada por ligações e mensagens recebidas por Daniel. Com medo de perder seu namorado, Bruno, opta por sofrer calado e o que antes era uma história intensa de duas pessoas que se amam, passa a ser um quotidiano de desconforto.

Para além disso, fora da poética idílica construída por eles no conforto de casa, os dois jovens são cada vez mais confrontados por pequenas e grandes violências xenófobas, racistas e homofóbicas, que vão agravar os conflitos internos de cada um e a sua comunicação e partilha: Bruno sente-se cada vez mais sozinho no mundo, sem família, e Daniel luta em segredo com as dificuldades de assumir a sua homossexualidade perante a herança altamente religiosa da sua mãe Moçambicana e o seu lugar enquanto homem negro, afrodescendente numa sociedade machista, onde a sua natureza parece não ter lugar.

Impulsionado pela irmã, Daniel decide contar à sua mãe quem realmente é, e deixar claro que a única coisa que o move é o amor. Mesmo sem obter a aceitação, Daniel passa a sentir-se aliviado e disposto a retomar sua relação com Bruno, mas um ataque homofóbico a uma de suas amigas, faz com que Daniel se posicione também perante o mundo.

Daniel finalmente decide se unir a todos na agência e tirar do papel a ideia de uma campanha contra a homofobia criada por Bruno. Eles entregam-se neste objetivo e o que era antes uma campanha apenas na cidade de Lisboa, torna-se uma campanha à escala mundial. No meio de um grande evento que reúne muitas pessoas dispostas a se manifestarem a favor do amor, Bruno e Daniel mantêm o olhar fixo e apaixonado, enquanto são emoldurados por uma grande onda de amor.”

www.indiegogo.com/projects/el-pacto

“L Word and now The Generation Q”

Ana Ferreira

08 de Dezembro 2019

Em 1999 estreava no Reino Unido Queer as Folk uma série sobre relações homoafectivas. Com maior foco nas relações entre pessoas do sexo masculino esta série abriu as portas e os horizontes para que o mundo LGBTI+ saísse do armário publicamente. A sua homónima americana-canadiana teve bastante sucesso e foi para o ar durante cinco anos. Mas essa série ficará para outro dia :). E como já tínhamos uma série maioritariamente sobre gays Ilene Chaiken resolveu criar uma série maioritariamente sobre um grupo de amigas lésbicas e bissexuais que decorre em Los Angeles, Califórnia.

The L Word estreou em 2004 tendo terminado em 2009, cinco anos de uma série que nos deixou saudades e que contou com actrizes como Jennifer Beals e Mia Kirshner. A série foca-se nas suas relações amorosas, bem como nas suas profissões, focando o papel de mulheres independentes quebrando estereótipos ainda muito usuais em séries e filmes no início deste século.

Temas como reprodução, inseminação artificial, adopção, transexualidade, travestismo são abordados ao longo da série, transformando-a num marco para a população LGBTI+ que finalmente começa a sentir que a invisibilidade se começa a quebrar. No centro deste enredo encontramos o “Quadro” da personagem Alice que é nada mais do que um quadro onde ela constrói uma espécie de mapa de relações entre as pessoas da série, quem teve algum tipo de relacionamento com quem, baseado no que as pessoas divulgam sobre as suas relações e encontros, revelando por vezes ligações bastante engraçadas.

Mas para quem tinha saudades e estava curiosa para saber o que tinha acontecido às personagens da série chegou a altura de parar de “sofrer” pois uma nova geração de L Word irá para o ar hoje. The L Word Generation Q contará com Jennifer Beals, Leisha Hailey e Katherine Moennig dez anos depois do último episódio da série original. Novas personagens surgem, com outros obstáculos e outros desafios 🙂 . Politica e culturalmente o mundo mudou e isso também se irá reflectir na série. As leis sobre questões LGBTI+, o quebrar de tabús, preconceitos, estereótipos a cada dia que passa, a visibilidade das pessoas LGBTI+ nas mais variadas profissões e aspectos de vida teve uma evolução exponencial desde essa altura, não só nos Estados Unidos como em muitos outros países.

Os filmes/séries hoje em dia incluem cada vez mais personagens LGBTI+ e também pessoas LGBTI+ a representar os mais variados papéis, o que é muito importante em termos de representatividade social.

A série estreia hoje como já referi e deixo um aviso muito importante para quem vai conseguir ver hoje, nada de spoilers 🙂 !!!!

“Masked”

Sam Blue

26 de Novembro 2019

“Masked” é uma curta-metragem produzida por Momentum Studios Australia e pelo Câmara Municipal da Cidade de Knox, sendo um projecto elaborado por adolescentes entre os 15 e os 18 anos do grupo LGBTI+ “Free to Be Me” e financiado pela Câmara Municipal de Knox.

Este filme relata a história de Zoe (posteriormente Zack), um adolescente transgénero, o seu caminho para a auto-aceitação da sua verdadeira identidade e a sua luta para enfrentar o seu medo de sair do armário.

Em poucos minutos, somos levados a reflectir sobre temas tão sensíveis e delicados como as relações familiares, o suicídio, a adolescência e o autoconhecimento/auto-aceitação. Faz-nos perceber que os preconceitos que temos interiorizados para connosco são muitas vezes o grande inimigo que temos de enfrentar, para que possamos posteriormente batalhar o preconceito dos outros, quer sejam familiares ou amigos.

Dada a abordagem de temas tão sensíveis, mesmo que breve e discreta, esta curta poderá ser um gatilho para algumas pessoas, que enfrentam realidades semelhantes, por isso gostaria de deixar como nota, que tal como Zack, também nós, pessoas da vida real, podemos lutar pelo nosso final feliz, e não devemos nem podemos ter vergonha de pedir apoio e ajuda para alcançá-lo.

“Os dez espelhos de Benjamin Zarco”

Ana Ferreira

19 de Novembro 2019

Richard Zimler nasceu em Roslyn Heights, um subúrbio de Nova iorque na década de cinquenta, tendo-se mudado para Portugal onde vive desde 1990. Entre histórias mágicas para adultos escreve também livros para crianças, tendo “O cão que comia a chuva” ganho o Prémio Bissaya Barreto de Literatura para a Infância 2018.

“Em abril de 1506, durante as celebrações da Páscoa, cerca de dois mil cristãos-novos foram mortos num pogrom em Lisboa e os seus corpos queimados no Rossio.”

Quinhentos e alguns anos depois encontramos Benjamim Zarco descendente de Berequias Zarco um dos protagonistas da história do “Último Cabalista de Lisboa” o livro com o qual se estreou Zimler. Os dez espelhos de Benjamin Zarco levam-nos a atravessar a história e a percorrer os destroços deixados pelas guerras e pelos constantes atentados aos direitos humanos.

Zimler transporta-nos incessantemente por entre as vivências de Benjamim e Shelly, dois primos que foram os únicos membros da família a sobreviver ao Holocausto, numa escrita deslumbrante onde a sexualidade é sempre encarada como algo que faz parte de cada ser, sem tabús e preconceitos como é característico de Zimler. Embrenhamo-nos por esta história entre alegrias e tristezas de uma batalha árdua pela sobrevivência, cujas personagens vivem entre o passado e o presente pois a incerteza do futuro demonstra que os fantasmas por vezes são mais reais do que queremos acreditar.

Poderia falar-vos de qualquer livro de Zimler, pois cada um tem à sua maneira uma visão do mundo bastante real e deslumbrante, não escondendo as atrocidades de que o ser humano é capaz e as repercussões que isso acarreta em cada um de nós e na Humanidade. Os dez espelhos de Benjamin Zarco foi editado em 2018 e esperamos ansiosamente pelo próximo 🙂 e atenção as pessoas adultas não se inibam e leiam também “O cão que comia a chuva” pois é fabuloso.

“Saving Face”

Sam Blue

12 de Novembro 2019

“Saving Face” é um filme realizado por Alice Wu, que nos submerge nas subtilidades da cultura chinesa, através da perspectiva de duas histórias bastante diferentes, mas que acabam por ter um ponto em comum: a não aceitação e julgamento da comunidade onde se inserem. Não, não me interpretem mal, este não é um filme chinês cheio de efeitos especiais, pelo contrário, nem sequer retrata a realidade vivida na China, mas sim a da comunidade chinesa nos Estados Unidos.

A primeira história é a de Wilhelmina Pang (Michelle Krusiec), que é uma cirurgiã de sucesso, lésbica, que encontra o seu verdadeiro amor, Vivian (Lynn Chen), uma bailarina. No entanto, esta história de amor, não será sempre linear e fácil. Wilhelmina terá de enfrentar o seu medo de compromissos e pior do que isso, terá de enfrentar a sua mãe (Joan Chen), que se recusa a aceitar a orientação sexual da filha e ainda sonha que esta encontre o homem perfeito, case e tenha filhos.

A segunda história, um pouco mais secundária, é a da mãe de Wilhelmina, mulher de meia idade, que tem medo do julgamento de comunidade que a rodeia, e que por isso não aceita a realidade. Claro está que tudo isto muda quando esta se vê grávida, com um filho de pai desconhecido, e tem de enfrentar os seus próprios preconceitos, apercebendo-se que afinal, o que interessa não é o que a comunidade pensa, mas sim a felicidade que se sente. Esta mudança na sua mentalidade é a propulsionadora da mudança de postura para com a sua filha.

Este filme mostra-nos então o quão importante é o conceito de comunidade para os chineses, o quão difícil ainda lhes é aceitar a homossexualidade, mas acima de tudo, ensina-nos que não podemos viver agarrados ao que os outros vão pensar, nem aos nosso próprios preconceitos, pois isso irá indubitavelmente impedir-nos a nós e aos que nos rodeiam de ser felizes.

“Boy Erased”

Sara Estrela

04 de Novembro 2019

Joel Edgrton guia-nos por uma história comovente baseada no livro de Garrard Conley “Boy Erased: A Memoir” que retrata a passagem do escritor pela sua adolescência. Jared foi forçado a realizar terapia de conversão depois da sua orientação sexual ter sido exposta por um colega que o violou e tentou descredibilizar expondo a sua orientação sexual à direcção da escola.

Marchal o patriarca da família é um pastor Baptista e extremamente religioso. Ele e a sua esposa Nancy vêm as suas vidas derrubadas pela descoberta da orientação sexual de Jared e são guiados a sugerir a sua inclusão num programa de terapia de reconversão como caminho até a “cura”. O casal é retratado como pessoas de bom coração porém altamente intoxicadas pela ignorância e ingenuidade.

Jared é então inscrito num centro pelos pais onde experiencia juntamente com o grupo de jovens onde está inserido, métodos pouco convencionais para forçar uma suposta “cura”. Os vários jovens são constantemente humilhados e passam por vários processos violentos e abusivos. Ao longo do processo de “reconversão” um dos colegas suicidasse, levando Jared a fugir do centro com a ajuda da sua mãe.

Este filme retrata um cenário que ainda hoje acontece legalmente em diversos países no mundo. O uso de terapias de conversão como se a orientação sexual fosse uma doença que pode ter cura demonstra que a ignorância e o preconceito ainda está longe de ser combatido.

“The Handmaid’s Tale”

Ana Ferreira

27 de Outubro 2019

The Handmaid’s Tale é uma série baseada no romance homónimo da canadiana Margaret Atwood publicado em 1985 (A história de uma serva em português) que recebeu o Prémio Booker para ficção este ano pelo livro The Testaments que é a sequela da história de The Handmaid’s Tale. A série venceu os prêmios de Programa do Ano e Série Dramática no Television Critics Association e oito Emmys do Primetime, incluindo Melhor Série Dramática em 2017.

A história passa-se nos Estados Unidos da América, onde a democracia foi derrubada por uma facção radical, tendo passado a denominar-se de Gilead, que se rege por leis atrozes onde as mulheres são escravizadas e usadas como instrumentos de procriação, dado que a grande maioria da população ao longo do tempo foi sendo diagnosticada como infértil e as poucas mulheres férteis são violadas na tentativa de que engravidem, sendo as crianças posteriormente retiradas para serem criadas pelos homens a quem elas pertencem.

As mulheres estão proibidas de ler, as pessoas LGBTI+ são executados por traição, excepto nos casos em que estejam aptas para procriar, os cidadãos são espiados, as pessoas  que eles consideram criminosas são enviados para colónias radioactivas de trabalho forçado, as mulheres não têm direitos nem liberdade de expressão e são vítimas de exploração, abuso e de violência.

Neste cenário que nos parece à primeira vista tão ficcional, encontramos entre várias personagens que estão de parabéns Elisabeth Moss (June) a actriz principal da história e à volta da qual esta gira cuja actuação é brilhante e Alexis Bledel (Emily) homossexual, casada e com um filho, cuja esposa consegue levar para o Canadá, não tendo no entanto sido já permitido a Alexis sair do país dado ser fértil.

Privadas da sua liberdade, das suas famílias e até do seu nome Gilead transforma-as em escravas de uniformes vermelhos. Uma série verdadeiramente sufocante em que a realidade e a ficção estão de mãos dados sobretudo quando reconhecemos que em vários países este cenário é profundamente real e que a escravatura apesar de abolida na grande maioria do planeta fez e continua a fazer tantas vítimas.

A série já conta com três temporadas tendo sido renovada pelo menos para uma quarta, mas com a sequela já editada (The Testaments) esperemos que não fique por ai. Vejam a série mas preparem-se para a violência de algumas imagens.

“The Fosters”

Ana Ferreira

14 de Outubro 2019

The Fosters é uma série americana criada por Bradley Bredeweg e Peter Paige abertamente gays que conta a história da família de Stef e Lena Adams Fosters, um casal de mulheres lésbicas. Os criadores só conseguiram que o seu projecto fosse para a frente após serem apresentados a Jennifer Lopez , cuja produtora aceitou o desafio e permitiu que durante cinco anos esta família fizesse parte de nós.

Stef é polícia e tem um filho biológico do primeiro casamento (Brandon) e Lena a sua mulher é vice directora na escola onde os filhos do casal estudam. Juntas adoptaram duas crianças, Mariana e Jesus que são gémeos. Callie é uma adolescente problemática, que ambas decidem acolher, provocando uma reviravolta na vida da família. A jovem quer a todo o custo resgatar o seu irmão mais novo Jude que vive com seu pai adoptivo e que sofre abusos e agressões físicas por parte deste.

A série destrói tabús e mitos abordando diversos temas como questões LGBTI+, quer a nível de questões legais, sexualidade e identidade de género, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez e um sem fim de temas que abrangem as diversas faixas etárias das personagens e os desafios que estas enfrentam.

Uma série que deixa saudades mas para quem queira acompanhar Callie e Mariana, as duas filhas do casal Stef e Lena, pode ver o Good Trouble, que deriva da série inicial The Fosters. A viver em Los Angeles Callie e Mariana encontram-se já a trabalhar e a viver juntas numa comunidade. Experimentem ver pois a série é bastante divertida e foca temas interessantes e pertinentes da vida destas duas jovens adultas. The Fosters terminou mas Good trouble vai já na segunda temporada! 

“Vita e Virginia”

Fátima Cartaxo

06 de Outubro 2019

O filme “Vita e Virginia” estreou nos cinemas portugueses no dia 3 de outubro. Passa-se em Londres dos anos 20 e conta-nos a história do romance entre Virginia Woolf, uma das mais proeminentes figuras da literatura, e Vita Sackville-West, aristocrata e também escritora de sucesso. 

Alguns dos diálogos do filme foram retirados das mais de 500 cartas trocadas entre as duas, escritas ao longo de 19 anos. Estas cartas foram compiladas no livro “Cartas Íntimas a Vita Sackeville‑West”, estando uma presente também no livro “The 50 Greatest Love Letters of All Time”. Para além das cartas, o filme baseia-se, também, numa peça de teatro da atriz britânica Eileen Atkins (que coassina o argumento). Vita e Virginia são interpretadas pelas atrizes Gemma Arterton  e Elizabeth Debicki, respetivamente.

Em Setembro deste ano, chegou às livrarias portuguesas uma nova edição de “Orlando – uma biografia” (pela editora Cavalo de Ferro), obra de Virginia Woolf considerada o primeiro grande romance do pós-modernismo, que teve Vita Sackeville‑West como musa, lançado pela primeira vez em 1928.

Em 1990 também foi lançada uma minissérie de 4 episódios, sobre um romance de Vita Sackville-West com outra mulher, neste caso a escritora Violet Keppel (Trefusis), com o título de “Portrait of a Marriage”, que curiosamente é o mesmo título de um livro biográfico sobre a relação de Vita com o marido, Harold Nicolson. Também foi lançado um livro com as cartas de Violet Keppel para Vita (“Violet to Vita: The Letters of Violet Trefusis to Vita Sackville-West”).

A minissérie pode ser mais difícil de encontrar, o filme aproveitem para ver nos cinemas! 🙂

“Wiccan e Hulkling”

Fátima Cartaxo

21 de Setembro 2019

Wiccan e Hulkling são dois dos Jovens Vingadores da Marvel, uma nova geração de heróis adolescentes que se reúne para manter o legado dos Vingadores originais vivo, após o fim destes.

A primeira aparição dos Jovens Vingadores (Young Avengers) foi em 2005, sendo as bandas desenhadas escritas por Allan Heinberg (abertamente homossexual) e ilustradas por Jim Cheung, mas o que me traz a este texto é o arco “Vingadores: A Cruzada das Crianças”, por vezes denominado também de “Vingadores: A Cruzada da Inocência” (originalmente “Avengers: The Children’s Crusade).

Decorrido entre 2010 e 2012, este arco é composto por 9 volumes, sendo que o nono mostra‑nos, pela primeira vez, um beijo entre Wiccan e Hulkling, apesar de já serem um casal há bastante tempo.

Este beijo, que já tem 7 anos, gerou polémica recentemente, no Brasil, tendo havido uma tentativa de censura ao mesmo no início deste mês. Aconteceu que a banda desenhada onde aparece o beijo estava entre os livros do evento literário brasileiro “Bienal do Livro”, do Rio de Janeiro. O evento foi fiscalizado com o intuito de retirar qualquer livro com conteúdos considerados impróprios para crianças e adolescentes, com base em legislação de proteção dos mesmos, devendo os livros com conteúdos pornográficos e obscenos estarem selados e com a devida advertência de serem para maiores de 18 anos. O Prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, considerou que um mero beijo entre dois rapazes se tratava de “conteúdo pornográfico e obsceno”, determinando assim a suspensão da venda da banda desenhada no evento.

Crivella afirmou que com esta suspensão está apenas a “proteger os menores do Rio de Janeiro”, uma vez que a banda desenhada tem “conteúdo sexual para menores”.

Em pleno 2019, ainda temos de explicar aos Crivellas desta vida que um beijo não passa a ser conteúdo pornográfico só por ser dado entre pessoas do mesmo sexo e que a homossexualidade não é algo obsceno.  Felizmente, não somos todos Crivellas e a organização do evento recusou‑se a retirar a banda desenhada das suas estantes.

Apesar da gravidade desta tentativa de censura e dos incontáveis comentários homofóbicos em apoio à mesma, algo bom também surgiu daqui e podemos focar-nos nisso mesmo: os protestos fizeram-se logo sentir, havendo também muita gente contra esta censura e contra a homofobia a apoiar e a lutar pelos direitos humanos e LGBT; a organização do evento defendeu a permanência da obra em questão; a ação homofóbica de Crivella trouxe visibilidade a estas personagens a ponto de a banda desenhada esgotar, tendo havido, inclusive, um aumento da venda de outras obras LGBT presentes no evento.

A título de curiosidade, até a página em que costumo apontar os episódios das séries que vou seguindo (bancodeseries.com.br) aproveitou a imagem deste beijo para criar um novo badge para os fãs de séries LGBT (que me apareceu logo nos badges a desbloquear xD).

Beijem muito. Com gosto. Sem Vergonha. Continuemos a denunciar atos homofóbicos e a lutar pelos nossos direitos.  

“Queen Sugar”

Ana Ferreira

10 de Setembro 2019

Queen Sugar é um drama americano criado e produzida por Ava DuVernay (produtora de Selma), com Oprah Winfrey servindo como produtora executiva. A série é baseada no romance com o mesmo nome editado em 2014 pela escritora norte-americana Natalie Baszile. Para já ainda não existe tradução para português por isso para as pessoas que ficaram ansiosas por ler é preciso ter o inglês em dia.

Rutina Wesley (Nova Bordelon) interprete o papel de uma mulher bissexual que luta incessantemente para mostrar ao mundo que a mulher negra existe e que o racismo deve ser combatido em todas as frentes. Através do poder da escrita Nova Bordelon filha mais velha da família tenta dar voz a todas as pessoas que ao longo dos séculos têm sido silenciadas. A sexualidade é retratada na série como algo muito natural independemente do seu espectro e idade, sem quaisquer tabús.

Uma série que vai muito para além da temática LGBTI+ e que envolve questões seculares por resolver como o racismo e a xenofobia. A série conta já com quatro temporadas e espero bem que seja renovada porque a história desta família e desta cidade é algo que não deixa esquecer que o civismo e diversidade ainda não existem em todos os cantos deste planeta e que o racismo está longe de se extinguir.

“Euphoria”

Ana Ferreira

03 de Setembro 2019

Euphoria, estreou este ano pelas mãos da HBO, bem conhecida pelos portugueses como o canal de televisão do Game of Thrones, saudades à parte Euphoria é baseada na série israelita com o mesmo nome criada por Ron Leshem, Daphna Levin e Tmira Yardeni. A versão americana foi adaptada por Sam Levinson e foca situações da vida pessoal deste enquanto adolescente.

Sexo, drogas e rock n’roll, sim porque a banda sonora é fabulosa e a série incide sobre um grupo de adolescentes do ensino secundário, retratando de uma forma crua as lutas destes num mundo cada vez mais mediático e sem regras onde a privacidade de cada um parece não existir. A série aborda temas como a sexualidade, os problemas de identidade, as redes sociais, a crueldade típica da adolescência ou os preconceitos sociais. Uma combinação perfeita entre Skins13 reasons why e Sex education que nos envolve numa trama surpreendente.

Zendaya Coleman é Rue a principal narradora desta história e interpreta o papel de uma adolescente, com vários problemas e viciada em drogas que acabou de sair da reabilitação. Hunter Schafer é Jules, uma rapariga transexual que acaba de chegar à cidade e por quem Rue irá sentir bastante empatia.  As duas adolescentes vivem a sua vida numa busca constante de algo que as mesmas parecem desconhecer completamente.

A história de cada uma das personagens que compõe este elenco acaba de uma forma ou de outra por se interligar e muitas vezes causando repercussões sérias na vida de cada um. A série une-se a Orange is the new black ou Sense8 como exemplo de produções onde pessoas trans são contratadas e representam papéis de pessoas trans. E para quem for ver e gostar anime-se que a série foi renovada e teremos mais uma temporada.

“Ma Rainey’s Black Bottom”

Fátima Cartaxo

20 de Agosto 2019

Ma Rainey foi uma das mais antigas cantoras de Blues, considerada a “Mãe do Blues” ou a “Rainha do Blues”. Nasceu em 1886 e viveu até 1939. O seu período de atividade musical foi de 1900 a 1933, o que não impediu que algumas das suas letras falem de relações com outras mulheres.

Este ano, foi anunciado que Viola Davis interpretará Ma Rainey num filme previsto para 2020, com realização de George C. Wolfe.  A atriz Taylour Paige interpretará a personagem Dussie Mae, namorada de Ma Rayney.

O filme retrata as tensões com que a cantora Ma Rainey se deparou entre si, os seus companheiros de banda, o seu agente branco e o seu produtor, enquanto gravavam um álbum, em 1927. Terá o título de “Ma Rainey’s Black Bottom” e é uma adaptação de uma peça de teatro com o mesmo nome, de 1984. O título da peça foi baseado numa música de Ma Rainey com o mesmo nome.

Já está na minha lista de filmes aguardados e não poderia deixar de partilhar convosco. 😊

“Heathen”

Fátima Cartaxo

13 de Agosto 2019

Hoje trago-vos “Heathen”, uma banda desenhada de género fantasia, ação e aventura, criada, escrita e ilustrada por Natasha Alterici, que nos conta a história de Aydis, uma jovem guerreira viking lésbica.

Aydis foi ostracizada pela sociedade patriarcal do seu povo após ter sido “apanhada” a beijar outra mulher. Farta de injustiças e em busca de igualdade, decide declarar guerra ao deus líder Odin, para pôr um fim nesta sociedade opressora.

Para além da temática lésbica, “Heathen” explora temas como o feminismo e a mitologia nórdica clássica. Conta com 8 volumes até ao momento, tendo o último sido lançado no dia 31 de julho. O primeiro volume foi lançado em 2017.

Em 2018, foi anunciado que Heathen vai ser adaptada a filme, com o roteiro a cargo de Kerry Williamson. Em julho de 2019, anunciaram que a direção foi entregue a Catherine Hardwicke. Ainda não existe data de previsão do lançamento. 

Enquanto não sai o filme, podem sempre ir lendo as comics. 😊

“Síndrome de Antuérpia”

Ana Ferreira

05 de Agosto 2019

“O privado não é aquilo que os outros não sabem, é o segredo que todos guardam.”

“Não foi uma notícia, porque as notícias explodem como bombas. Foi um segredo, que progrediu casa a casa, alastrando como uma mancha que escolhe os seus objectivos, os envolve e engole, crescendo em silêncio, transformando quem os ouve num cúmplice. Não estão escritos os critérios de dispersão de um segredo. Mas há nas comunidades uma intuição que as leva a saber por quais ruas ele corre e em que casas não deve entrar, selecionando quem o difunde, quem o ouve e cala, e quem nunca o virá a saber. Normas que podem permanecer adormecidas durante gerações, como certas sementes no deserto, e que subitamente ressurgem, atribuindo a cada um o seu papel, numa lógica que não é governada por homens, mas apenas pelo instinto colectivo. Porque as comunidades, como qualquer ser vivente, sabem bem quando são feridas de morte.”

Pode ler-se isto quando se vira o livro e deixa-nos a pensar o que estará lá dentro para que nos revelem algo desta forma tão intensa e verdadeira. João Felgar nasceu em Moçambique em 1970 e traz-nos a história de Castiça e de uma terra como tantas outras onde a ignorância e o medo se misturam com a violência e se destroem vidas. Castiça não é mulher nem é homem, porque na cabeça de todas as pessoas que habitam a aldeia ela é apenas a Castiça, uma alma perdida entre o álcool e a desgraça, que ninguém gosta de ver mas que todos toleram. A transexualidade e o travestismo num mundo onde ser quem somos pode ser a nossa morte. Uma história contada de uma forma brilhante, num discurso que tantas vezes nos revolta porque sabemos o quanto é verdade e o quanto ainda falta para que a diversidade dos seres seja respeitada no seu todo.

“Portrait de la Jeune Fille en Feu”

Fátima Cartaxo

23 de Julho 2019

Apesar de em Portugal ainda não ter título oficial, “Portrait de la Jeune Fille en Feu” traduz-se em “Retrato de uma Jovem em Chamas”, título já atribuído no Brasil. Trata-se do filme vencedor da Queer Palm deste ano, prémio atribuído no Festival de Cannes.

Passa-se na França do século XVIII e conta-nos a história de Marianne (Noémie Merlant), uma jovem pintora que recebe a tarefa de pintar um retrato de Héloise (Adèle Haenel) para o seu casamento, sem que esta saiba. Marianne passa os dias a observar Héloise e as noites a pintá-la, vendo-se cada vez mais próxima da sua modelo. Estamos, portanto, perante um romance histórico/de época, lésbico.

Como realizadora e roteirista temos Céline Sciamma, cineasta lésbica, que também escreveu e dirigiu “Bando de Raparigas”, “Maria-Rapaz” e “Lírios d’Água”. Adéle Haenel  também foi uma das protagonistas de “Lírios d’Água”, tendo interpretado Floriane.

Segundo o Imdb, “Retrato de uma Jovem em Chamas”, que poderá vir a ter outro título em Portugal, estreia no país a 31 de outubro. Não percam.

“Couple-Ish”

Fátima Cartaxo

15 de Julho 2019

No dia 14 de julho comemorou-se o Dia Internacional das Pessoas Não-Binárias. Ainda em jeito de comemoração, trago-vos a websérie “Couple-Ish”, criada e protagonizada por Kaitlyn Alexander, pessoa não binária que interpreta uma personagem não binária: Dee Warson.

A websérie começa com Dee Warson à procura de alguém com quem dividir o apartamento, que não consegue pagar por si só. Depois de vários candidatos, acaba por ficar a morar com Rachel Mannt (interpretada por Sharon Belle), uma mulher inglesa que chegou recentemente ao Canadá. Oito meses depois, o visto de Rachel está prestes a expirar e numa tentativa desesperada de poder continuar no país, Rachel conta às autoridades que ela e Dee vivem em união de facto, para que a autorizem a ficar. Dee acaba por concordar em ajudá-la na sua mentira. A partir daqui é ver a websérie para ver o que acontece…

Kaitlyn Alexander e Sharon Belle também fazem parte do elenco da websérie “Carmilla”, onde interpretam LaFontaine e Danny, respetivamente. LaFontaine também é uma personagem não‑binária. Kaitlyn Alexander usa o pronome they, tal como as personagens mencionadas.

Infelizmente, não existem muitas personagens não-binárias. Deixo-vos aqui duas. Espero descobrir mais nos comentários. 😊

“Tom of Filand”

Fátima Cartaxo

11 de Julho 2019

Esta semana trago mais um filme biográfico, sobre um dos artistas mais influentes da cultura gay do século XX: Tom of Finland.

Tom of Finland é o nome artístico de Touko Valio Laaksonen, um artista que tocava piano e fazia ilustrações, muitas delas de caráter homoerótico. Foi por estas que ficou conhecido, apesar da censura dos anos 50 e 60, que dificultava a divulgação da sua obra.

Foi nos anos 70, com a descriminalização da nudez masculina, que a sua carreira decolou, com Tom a publicar séries de banda desenhada erótica e a fazer exibições das suas ilustrações. Foi em 2017 que lançaram “Tom of Finland”,  um filme sobre a sua vida e obra.

 O filme mostra-nos Touko a deixar o serviço militar no exército finlandês, depois de combater na Segunda Guerra Mundial; mostra-nos as pressões e perseguições de que foi alvo, tanto da população em geral, como da polícia e do governo; mostra-nos como começou a sua coleção de ilustrações homoeróticas, primeiro secretamente guardadas, depois divulgadas mundialmente. Está concentrado nos anos 70, nas décadas anteriores à descriminalização da homossexualidade na Finlândia, mostrando-nos o contraste entre os desejos e obra de Touko e a sociedade conservadora e homofóbica em que residia.

Apesar de tudo, Touko  Laaksonen conseguiu manter uma relação estável com  Veli Mäkinen, com quem viveu durante quase 30 anos, até a morte deste.

Para quem ainda não viu, fica aqui a sugestão. Um filme biográfico, um pedaço da nossa história a não perder.

“Elisa e Marcela”

Fátima Cartaxo

01 de Julho 2019

Elisa e Marcela foram duas mulheres espanholas que decidiram casar-se em 1901, após 15 anos de relação. Para que tal fosse possível, Marcela passa a “ser” Mário, conforme consta no assento de casamento. Apesar de no registo constar Elisa e “Mário”,  Elisa e Marcela são o primeiro casal homossexual a contrair casamento em Espanha.

As duas mulheres acabaram por ser descobertas e perseguidas. Tiveram de fugir e escolheram Portugal como destino. Após nova perseguição segue-se outra fuga para Argentina, onde mudam de nome e passam a ser “irmãs”.

Ao longo da história foram muitas as notícias, em Portugal e Espanha, sobre o “casamento sem homem”, como diziam. As notícias e os registos permitiram que o historiador Narciso de Gabriel nos contasse esta história com todos os detalhes encontrados, no seu livro “Elisa y Marcela. Más allá de los hombres”, lançado em 2008. Este ano, o historiador voltou a editar novo livro sobre o casal: “Elisa y Marcela. Amigas y amantes”, e foi, também, lançado o filme  “Elisa e Marcela”, pela Netflix. Uma história real a não perder!

“Kyss Mig”

Fátima Cartaxo

24 de Junho 2019

Sabem aqueles plots dos “filmes lésbicos” em que a protagonista “hétero” tem uma relação feliz de longa data com um homem, mas depois vê uma lésbica na rua e decide trair o namorado/marido, mas depois é apanhada e decide que é hétero outra vez e que quer voltar para o namorado marido, mas depois fica infeliz e decide voltar para a amante lésbica e por aí afora?

Infelizmente é um plot que já foi muito usado e que reforça a ideia de que, ou não existe bissexualidade e a protagonista “hétero/lésbica” tem de se decidir de uma vez por todas, ou que pessoas bissexuais vão acabar por trair @ parceir@ com o sexo oposto porque “está na sua natureza”.

Kyss Mig, à primeira vista, parece ir caminhando para este plot, mas felizmente é um filme que tem muito mais do que isto a transmitir.

Fazendo uma breve sinopse deste filme sueco de 2011, Kyss Mig é um romance entre mulheres, uma bissexual, Mia, e uma lésbica, Frida. Conhecem-se na festa de noivado dos seus pais, que coincidiu com o anúncio do noivado de Mia e Tim. Noivado esse que não durou muito tempo, porque à medida que se vão conhecendo, Mia e Frida vão se apaixonando.

Parece mais do mesmo… Não é porquê?

Comecemos como uma coisa tão simples como usar a palavra “bissexual”. Como assim uma mulher que gostava de um homem e agora gosta de uma mulher pode ser bissexual? Como assim a mulher que antes gostava de um homem e agora gosta de outra mulher não é lésbica? Foi isto que eu aprendi nos outros filmes todos e agora este afinal vem dizer que há mulheres bis… Sarcasmos à parte, finalmente um filme do género que não reforça a invisibilidade bissexual, apesar do cenário da traição não ser o ideal…

Impõe-se outra questão… a protagonista bi traiu o noivo com uma mulher. Estará a reforçar-se a ideia de que os bissexuais são eternos traidores? Não. O filme deixa claro que traições não têm a ver com orientação sexual e é aqui que me parece inovador e necessário. Que existem pessoas que traem outras, é um facto, e existem dentro de todas as orientações sexuais.

Trata-se de um filme muito bonito visualmente, com excelentes atuações e uma grande química entre as protagonistas. O romance é bem explorado e não cai em exageros ou superficialismos. Vale a pena ver.

“Variações”

Fátima Cartaxo

17 de Junho 2019

Passaram 35 anos da morte de António Variações no dia 13 de junho, dia de Santo António. Variações não foi santo, mas foi e continua a ser popular, sendo um dos maiores ícones da música portuguesa. A sua breve carreira musical deixou um grande legado que continua a ser homenageado nos dias de hoje, seja pelas tunas e karaokes deste país, sejam homenagens de maior porte como o próximo filme “Variações”, que estreia nos cinemas portugueses no dia 22 de agosto. Conta com a realização de João Maia e com a produtora “David & Golias”.  António Variações é interpretado pelo ator Sérgio Praia. Entretanto, podemos ir vendo o trailer e uma breve cena que nos mostra o seu primeiro concerto, na discoteca lisboeta Trumps.

O filme de 2019, ano em que o cantor celebraria 75 anos de vida, junta-se a outras obras, como o documentário de 1996 (“António Variações”), os livros de 2006 (“António Variações: entre Braga e Nova Iorque” e “Muda de Vida”), um busto na sua terra natal – Fiscal -, e álbuns musicais em sua homenagem.

“Bohemian Rhapsody” e “Rocketman” não são as únicas cinebiografias de grandes músicos que por acaso também são ícones LGBT. Em Portugal também temos “Variações”, e espero que em agosto se encham as salas de cinema, em homenagem a António Variações e em apoio ao cinema português e LGBT!

PS: Falando de cinebiografias de grandes músicos LGBT, também será lançado um filme sobre Boy George (vocalista do Culture Club), previsto para 2020, e, na verdade, já existe o filme “Worried About the Boy”, de 2010, sobre o cantor.

“O Futuro é Só Amanhã”

Ana Ferreira

10 de Junho 2019

Miguel Agramonte traz-nos uma história deliciosa sobre a jornada de um jovem de uma pequena aldeia no Norte de Portugal que se vai descobrindo aos poucos. Pedro podia de facto ser qualquer um de nós como diz João Paulo no prefácio do livro. A história da descoberta da sexualidade de Pedro e de todo um mundo até então desconhecido é um pouco a história de cada um de Norte a Sul do país. A castração e o tabu que envolve a sexualidade asfixia-nos o crescimento e a forma de amar. A descoberta da sua orientação sexual leva Pedro a tropeçar várias vezes no mundo dos amores e desamores. Perdemos o fôlego várias vezes, porque cada página é surpreendente, cada personagem descrita como se fizesse parte das nossas vidas e ao virar da esquina está sempre mais uma surpresa.

Agramonte faz-nos viajar por um Portugal do início dos anos 2000 e leva-nos a crescer com Pedro, fazemos parte da pele dele e sentimos o tempo passar enquanto este cresce e evolui. Para aqueles que com mais de duzentas páginas já ficam de pé atrás para adquirir o livro, que o seu tamanho não seja um entrave pois quando pegarem nele não vão querer largar as mais de 600 páginas, e quando chegarem ao fim vão querer mais, muito mais.

O desafio que propuseram a Agramonte para escrever uma “história gay” tornou-se nesta viagem magnifica pelo sentir e viver que é “O Futuro é só amanhã.

“Não pretendi fazer mais do que relatar a vida de um rapaz comum que, por essa mesma razão, vive os seus lugares comuns e coincidências. Felizes e infelizes. As coincidências são o sal da vida e esta é, na sua maioria, composta por lugares comuns. (…) No entanto, gostava que qualquer pessoa que lesse esta história se identificasse com ela, sentindo-a como podendo fazer parte da sua vida. E, já agora, que ninguém lhe ficasse indiferente. Afinal, uma boa história, tal como uma boa vida, é aquela que não deixa ninguém indiferente.” Miguel Agramonte in “O Futuro é Só Amanhã”

“Batwoman”

Fátima Cartaxo

03 de Junho 2019

Já viram o trailer de “Batwoman”, que será a primeira super-heroína de uma série de tv assumidamente lésbica? Saiu no dia 16 de maio e mostra-nos Ruby Rose no papel de Batwoman/ Kate Kane.  A sexualidade da super-heroína não é novidade, tendo sido assumida nas DC comics em 2006 e, segundo as previsões, poderemos ver a personagem como protagonista na tela da tv ainda este ano, mas ainda não há data de estreia oficial.

Ruby Rose apareceu pela primeira vez como Batwoman em dezembro, no episódio especial “Elseworlds”, crossover entre Arrow, The Flash e Supergirl. O piloto foi aprovado, o trailer lançado, agora é esperar pela série e torcer para que seja boa… 😊

“Rocketman”

Fátima Cartaxo

27 de Maio 2019

No dia 30 de maio, estreia nos cinemas portugueses o filme “Rocketman”, que nos conta a história de vida e o percurso musical de Elton John.

Depois de polémicas e pressões para retirar uma cena de sexo do filme, felizmente decidiram manter a cena em que Elton John (interpretado por Taron Egerton, o Eggsy de Kingsman) tem a sua primeira experiência sexual, com John Reid (interpretado por Richard Madden, o Robb Stark de Game of Thrones), como se pôde comprovar na exibição do filme no Festival de Cannes.

Rocketman será o primeiro filme de um dos 5 grandes estúdios de Hollywood (Paramount) a mostrar uma cena de sexo entre dois homens. 😊

“Gentleman Jack”

Fátima Cartaxo

21 de Maio 2019

Já aqui escrevi sobre o filme “The Secret Diary of Miss Anne Lister”, chegou a vez de escrever sobre a série “Gentleman Jack”. Estas duas obras retratam a vida de Anne Lister (1791 – 1840): a “primeira lésbica moderna da história.”

“Gentleman Jack” é uma minissérie do canal BBC, tal como o filme, e estreou em abril deste ano. É exibida, também, no canal HBO, incluindo a HBO Portugal. Terá a duração de 8 episódios. O título refere-se à alcunha que os habitantes de Halifax atribuíram a Anne Lister, pela sua aparência e hábitos “masculinos” e relações com outras mulheres.

A alcunha “Gentleman Jack” também dá o nome a uma música do duo O’Hooley & Tidow que nos canta sobre Anne Lister.

Lister ficou conhecida através dos seus diários, onde narrava os detalhes da sua vida quotidiana, incluindo os seus relacionamentos lésbicos, as suas preocupações financeiras, atividades industriais e o trabalho que dedicava a planear as obras e o paisagismo da sua propriedade, o “Shibden Hall”, que herdou do tio, James Lister, falecido em 1826. A série será sobre a renovação desta moradia histórica, tendo mesmo sito provisoriamente intitulada de “Shibden Hall” anteriormente.

Anne Lister foi uma mulher do século XIX que viveu abertamente a sua sexualidade, chegando mesmo a casar-se (sem reconhecimento legal, claro) com Ann Walker. Foi inaugurada em julho de 2018 uma placa em sua homenagem e em reconhecimento do seu casamento na igreja da Santíssima Trindade em York, na Inglaterra, marcando o local onde Anne Lister recebeu comunhão com Ann Walker, em 1834.  É comum afixar-se uma placa azul para designar locais e personalidades importantes na história da Inglaterra. Esta é a primeira placa azul rodeada com um arco-íris. 😊

Não percam a série sobre a primeira lésbica moderna da história!

“45 Dias sem Você”

Fátima Cartaxo

13 de Maio 2019

Dos mesmos produtores de “Hoje eu quero voltar sozinho”, chega-nos mais um romance gay brasileiro intitulado “45 dias sem você”. O primeiro trailer já pode ser visto, tendo sido lançado em meados de abril. A estreia oficial no país de origem e em plataformas digitais está marcada para 16 de maio. Foi escrito e dirigido pelo realizador Rafael Gomes.

Como podemos ler na capa, o filme traz-nos cinco países, três amigos e um coração partido. Coração esse do jovem Rafael, que depois de ter esperado 45 dias por um amor que nunca retornou, decide “romper as suas próprias barreiras” e partir numa viagem com o objetivo de conhecer três locais diferentes e encontrar três amigos que também abandonaram as suas vidas, por diferentes razões.

Mais um filme do cinema gay brasileiro a não perder. 😊

“Carol e Susan”

Fátima Cartaxo

05 de Maio 2019

Feliz dia da mãe a todas as vossas mães e a todas as que de vocês forem mães. E porque hoje é dia da mãe, venho recordar a Carol e a Susan de Friends, o primeiro casal lésbico que vi na televisão, que cuidava do filho Ben (filho biológico de Carol e Ross).

Explicando a trama, para quem não viu a série, Carol é a ex-mulher de Ross, um dos seis amigos protagonistas. O seu divórcio deveu-se ao facto de Carol ser lésbica e se ter apaixonado por Susan, com quem assume a relação após o término do casamento. Acontece que Carol estava grávida quando se separou. Ela e Susan decidem cuidar do filho juntas e Ross acata a decisão. Mais tarde, acabam mesmo por casar, sendo o primeiro casamento lésbico da tv, numa altura em que não era legal em lado nenhum. O primeiro país a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi a Holanda, em 2001. A série é de 1994 e mostrou o casamento destas personagens em 1995.

Nas poucas vezes em que aparecem na série, Carol e Susan são retratadas com a mesma naturalidade de qualquer outro casal, tal como deve ser feito. Ben foi crescendo com as suas duas mães. Apesar de serem personagens bastante secundárias e de não ter encontrado nenhum beijo entre as duas, foram um marco na história da representação lésbica, e um passo importante para a representação que se foi seguindo, mostrando-nos um casal lésbico com a guarda de uma criança e o seu casamento, numa altura em que isto parecia impossível.

“Shamim Sarif”

Fátima Cartaxo

29 de Abril 2019

Quem se lembra do clássico “I can’t think straight”? E quem se lembra do nome da realizadora? Hoje trago-vos Shamim Sarif, escritora e realizadora londrina, com origens indianas e africanas, e dois dos seus livros e respetivos filmes: “I can’t think straight” e “The World Unseen”. O casal protagonista de ambos filmes é interpretados pelas mesmas atrizes: Lisa Ray e Sheetal Sheth.

 “The World Unseen”, lançado em 2001, conta-nos uma história passada em África do Sul, na altura do apartheid: Amina é uma jovem mulher que desafia as convenções a comunidade indiana em que cresceu e que se recusa a seguir a segregação racial implementada, dando as boas-vindas a pessoas de todas as origens e cores no seu café. Miriam é uma jovem indiana, mãe de família, tradicional e submissa ao casamento que a sua família lhe arranjou. Quando estas duas mulheres de dois mundos diferentes se conhecem as suas vidas transformam-se completamente.

 Sarif adaptou este livro a filme em 2007, com o mesmo título, e em 2009 foi lançada a versão portuguesa do livro com o título de “O Mundo Invisível”. No meio destes dois acontecimentos, Sarif lança o livro “I Can’t Think Straight” e o respetivo filme, em 2008.

 “I Can’t Think Straight” conta-nos a história de Tala e Leyla. Tala é uma mulher cristã, enérgica e determinada, que, apesar de residir em Londres, ainda tem de enfrentar as tradições do seu país, a Jordânia, onde toda a sua família se dedica aos preparativos do seu casamento. Leyla é uma mulher muçulmana tímida, de ascendência indiana e britânica, que sonha ser escritora. Quando estas duas mulheres tão diferentes se encontram, a atração é imediata. Não encontrei versão portuguesa deste livro.

 São dois filmes que recomendo e dois livros que ainda estão na minha lista de livros por ler. Geralmente, o trabalho de Shamim Sarif integra uma mistura de culturas e amores lésbicos, tal como a sua vida. Sarif é casada com Hanan Kattan, com quem tem dois filhos.

Completando a sua bibliografia e filmografia, temos o livro “Despite the Falling Snow”, lançado em 2004, adaptado a filme em 2015; o livro de 2010 “Wrote the Book, Made the Movie, Raised the Kids, Now the Blog…”; e o documentário de 2011 “The House of Tomorrow”.  Está previsto o lançamento do livro “The Athena Protocol” para outubro deste ano e Sarif já está a adaptar a trabalhar num roteiro baseado no mesmo. Também será lançado o filme “Polarized”, protagonizado por um casal de mulheres, ainda em desenvolvimento e sem muitas informações divulgadas.

 Shamim Sarif venceu inúmeros prémios com as suas obras e discursou em várias TED talks.

“Uma criança como Jake”

Fátima Cartaxo

21 de Abril 2019

Hoje faz um mês que estreou o filme “Uma Criança como Jake”. Jake é um rapaz de 4 anos que prefere brincadeiras e roupas que habitualmente se atribuem a raparigas. À medida que o tempo passa e que o comportamento de Jake se vai tornando cada vez mais diferente do resto das crianças, o filme mostra-nos o percurso dos seus pais, na tentativa de o criar da melhor maneira e aceitar que talvez a sua identidade de género não seja a esperada.

Foram feitas algumas críticas ao filme pelo facto de não se focar em Jake, sendo os seus pais os verdadeiros protagonistas, afirmando-se, por isso, que não se foca na representatividade trans ou não binária, não desenvolvendo suficientemente bem o tema e passando por uma versão light que as massas possam “engolir”.

Ora, apesar de achar de extrema importância que se realizem filmes com protagonistas LGBTI+, um filme que foque na reação dos pais de uma criança que não se identifica com o género que lhe atribuíram e em que a reação dos pais caminha no sentido de se converter em apoio incondicional para com os seus filhos, independentemente de identidade de género, parece-me algo bastante positivo. E versões lights, apesar de insuficientes, abrem caminho para as restantes versões, para que uma pessoa que nunca tenha tido contacto com as realidades das pessoas e famílias LGBTI+, possa compreender melhor essas realidades a um ritmo a que consiga fazê-lo. Quanto mais compreensão mais empatia. Quanto mais empatia, menos preconceito.

Creio que num mês em que se criticaram palestras para combater o preconceito nas escolas, por pura ignorância, a estreia de um filme como este foi de extrema importância e uma lufada de ar fresco. Existiram, inclusive, sessões de antestreias com conversas sobre os temas da diferença e da educação e o papel dos pais e da escola na aceitação destas crianças que precisam de todo o apoio neste mundo cheio de preconceitos. E quanto a esse #deixemascriançasempaz, que toda a gente com dois dedos de testa percebe que a preocupação destes adultos desinformados não são as crianças mas sim a manutenção das suas caixinhas sem diversidade, eu afirmo que sim, que devem deixar as crianças em paz e deixarem-nas ser como elas sabem que são. Deixem as crianças como o Jake em paz, deixem as crianças como eu fui em paz, deixem-nas ser felizes e ensinem os colegas a deixá-las em paz em vez de as tratarem mal e a respeitá-las e a vê-las como iguais, porque somos todos iguais em dignidade e direitos, apesar de sermos todos diferentes. Não se esqueçam do grupo de crianças que não está a ser protegido quando se quer ensinar às outras crianças que palestras como esta são más, quando o que pretendem é precisamente proteger todas as crianças e todos os adultos em que se tornarão.

“Xavier Dolan”

Fátima Cartaxo

15 de Abril 2019

Hoje venho falar-vos dos vários filmes de Xavier Dolan, um dos meus realizadores preferidos, nascido no Canadá, assumidamente homossexual, cujos filmes têm abordado o tema da homossexualidade e identidade de género (não necessariamente todos).  Até agora conta com 7 filmes lançados, mais um por lançar brevemente e outro em produção.

Comecemos pelo primeiro: “Como Matei a Minha Mãe”, de 2009, realizado aos 20 anos. É um filme quase autobiográfico que aborda a relação problemática do protagonista com a mãe. Protagonista interpretado pelo próprio Dolan e, tal como ele, homossexual.

O segundo, “Amores Imaginários”, de 2010, traz-nos um triângulo amoroso, em que Francis, também interpretado por Dolan, e a sua amiga Marie se apaixonam pelo mesmo rapaz, Nicolas.

Em 2012, Dolan traz-nos o terceiro filme, “Laurance Para Sempre”. Aqui, já não dá vida a nenhum personagem de relevo, mas aparece brevemente numa das cenas. Laurance anuncia à namorada que é transexual e pretende fazer a transição. “Contra todas as adversidades, e até contra si próprios, enfrentam o preconceito dos amigos, ignoram as advertências das suas famílias, e confrontam as fobias da sociedade que estão a ofender”, como se pode ler na sinopse.

“Tom na quinta” é o quarto filme de Dolan, que interpreta Tom, lançado em 2013. “Tom, viaja até ao campo para o funeral do falecido namorado, morto num acidente de automóvel. Ao chegar, dá conta que ninguém o espera ou sequer desconfia daquela relação e da orientação sexual de Guillaume, o amante morto”.  Devo dizer que este foi o único filme de Dolan de que não gostei.

Em 2014, chega “Mamã”, outro filme que aborda uma relação problemática entre uma mãe e o seu filho. Este é o único que até agora sem uma personagem principal assumidamente homossexual ou trans. (Nunca se sabe, right?).

“Tão só o fim do mundo”, foi o último filme de Dolan a ser lançado, em 2016, e traz-nos a história de um escritor que se reúne com a sua família depois de 12 anos sem os ver, com a intenção de lhes contar que está a morrer. O protagonista deste filme também é homossexual.

O oitavo filme de Dolan, “The Death and Life of John F. Donovan”, apenas foi lançado no Canadá, Itália e França, até agora. Ainda não tenho informações da data de estreia nos restantes países. É o primeiro filme de Dolan em inglês (sendo os outros em francês). Traz-nos a história de um jovem ator norte-americano (Kit Harington) que procura atingir o estrelato no cinema. No entanto, tudo se complica quando a sua amizade com um rapaz de 11 anos se torna conhecida e os rumores sobre uma suposta pedofilia atormentam a sua vida pessoal e profissional.

O próximo filme será “Matthias & Maxime”, cuja sinopse desconheço, mas já existem nformações sobre o elenco. Xavier Dolan realizou, ainda, os videoclipes das músicas “Hello”, da Adele, e “College Boy”, dos Indochine.

“Romeos”

Fátima Cartaxo

07 de Abril 2019

No passado domingo, dia 31 de março, foi dia Internacional da Visibilidade Trans. Como não pude escrever-vos nesse dia, escolhi um filme com um protagonista trans neste domingo. 😊 Sim, porque é bom termos dias específicos de celebração das diferentes lutas da humanidade, que nos lembrem de que visibilidade é fundamental, mas melhor ainda, é lutarmos por visibilidade todos os dias. Portanto, hoje trago um momento de visibilidade para duas letrinhas da comunidade LGBTI+, o T de Trans e o G de Gay.

Como podemos ler na capa deste filme, “Romeus não é a típica história de amor do rapaz que conhece outro rapaz”. Pois um destes rapazes, Lukas, é trans, e tem de lidar com ainda mais questões e preconceitos ao longo da sua vida. Por exemplo, ser um homem e ser colocado no dormitório das raparigas, uma questão bastante complicada, como nos mostra o filme. Lukas, por acaso é um homem trans que gosta de outros homens. Relembro que identidade de género nada tem a ver com orientação sexual e uma pessoa trans pode ser hétero, homo, bi, pan, etc. O outro protagonista desta história chama-se Fabio. Os dois sentem-se atraídos um pelo outro. A partir daqui começam as preocupações de Lukas. Fabio ainda não sabe que Lukas é trans.  Será que reagiria bem ao descobrir? Será que não? Será que aceitaria? Será que posso confiar nele? Será transfóbico?

Sim… porque sabemos que dentro da nossa própria comunidade também existem preconceitos e discriminações. (Não confundir não saber lidar com a situação com transfobia, que nem sempre é o caso. Mas às vezes é mesmo o caso e que existem pessoas transfóbicas e até dentro da comunidade, lá isso existem…) Lutemos por quebrar preconceitos, mesmo quando não são contra nós.

Confesso que ainda não vi o filme, por isso ainda não sei a resposta a estas questões e parto apenas da sinopse, mas pela capa parece ter um final feliz… :p Verei em breve e convido-vos a ver também. Quem estiver por Coimbra pode aproveitar para o ver no dia 17 de Abril, no âmbito do “15.º Ciclo de Cinema LGBTI em Coimbra”. Também está a decorrer o 15.º Ciclo de Cinema LGBTI no Funchal e “Romeus” aqui vai ser exibido no dia 12 de abril. Se tiverem amigos por estes lados divulguem! 😊

“Teresa e Isabel”

Fátima Cartaxo

24 de Março 2019

Estava eu numa livraria, na estação de metro do Cais do Sodré, quando me deparei com o livro “Teresa e Isabel” e, por me ter chamado a atenção, decidi ler a sinopse:

 “Teresa e Isabel foi, durante longos anos, uma obra banida, um manuscrito recusado pelos diretores literários, em função de uma moral convencional que os fazia achar escandalosa a descrição sem barreiras de uma sensibilidade feminina. Hoje, pode enfim ler-se o livro tal como Violette Leduc o concebeu originalmente, com as suas páginas inéditas, ao mesmo tempo ásperas e preciosas, a sua linguagem nua e violenta que revela uma liberdade de tom que, até aos anos cinquenta, nenhuma mulher escritora ousara assumir.

Teresa e Isabel, que Violette Leduc começara a escrever em 1948, incentivada por Simone de Beauvoir, constituía a primeira parte de um romance, Ravages, proposto às Éditions Gallimard em 1954. Considerado impublicável, o romance foi então censurado pelo editor. No início dos anos sessenta, a autora integra por isso uma parte deste texto no terceiro capítulo do seu romance La Bâtarde. A outra parte é publicada autonomamente em 1966. E só hoje a obra recupera a sua coerência inicial e a sua continuidade.

 Narrativa do amor de duas jovens colegiais, Teresa e Isabel baseia-se na história de uma das três paixões experimentadas por Violette Leduc na sua vida real. A sua recusa pelo editor mergulharia a autora num longo e doloroso processo depressivo, que apenas a sua consagração como escritora, ocorrida cerca de dez anos mais tarde, permitiria superar.”

 Pensei logo: tenho de comprar! E não é que estava só a 1,50€?!?

 E aqui está a “verdadeira história de relações lésbicas em colégios internos eternizada neste livro autobiográfico”, de que vos falei há dois domingos, a propósito do “Raparigas de Uniforme”. 😊 Aproveitem para a ler, agora que já têm essa liberdade, depois de esta obra ter andado banida durante longos anos.

“Diferente dos Outros”

Fátima Cartaxo

17 de Março 2019

Diferente dos outros foi o primeiro filme sobre homossexualidade da história, lançado em 1919, na Alemanha, realizado por Richard Oswald, com a colaboração do sexólogo Magnus Hirschfeld, defensor de direitos homossexuais e transgénero. (Também a primeira personagem lésbica da história do cinema foi introduzida num filme alemão, “Boceta de Pandora” (1929), bem como o primeiro beijo lésbico, no filme “Raparigas de Uniforme”, já aqui publicado.)

Conta-nos a história de Paul Korner, um músico homossexual que se apaixona pelo seu aluno Kurt. Infelizmente, os dois são vistos andando de mãos dadas pelo chantagista Franz. (Relembro que homossexualidade era crime). Embora Paul concorde com as demandas de Franz no início, eles acabam por recusar sofrer mais chantagens. Quais serão as consequências?

O filme esteve em exibição por volta de um ano até ser banido ao público, passando a poder ser visto apenas por médicos e advogados. Anos mais tarde, a maioria das cópias foi destruída pelo regime nazi. Apenas uma sequência não finalizada sobreviveu, pelo que o filme completo perdeu-se para sempre. Mas esta importante obra pode ainda ser parcialmente vista no YouTube por qualquer interessado.

Termino com a tradução de uma citação do filme: “Você não pode condenar o seu filho por ser homossexual, ele não tem culpa da sua orientação. Ele não está errado e não deveria ser crime. Na verdade, nem mesmo é uma doença, somente uma variação, e uma que é bem comum na natureza”. De relembrar que estávamos em 1919. Quantos perceberam isto e quantos continuam com as mesmas ideias retrógradas em pleno 2019?

Com votos de evolução de mentalidades, até ao próximo domingo!

“Raparigas de Uniforme”

Fátima Cartaxo

10 de Março 2019

Este domingo, trago-vos o primeiro beijo lésbico da história do cinema. Aconteceu no filme alemão “Raparigas de Uniforme”, lançado em 1931. (A título de curiosidade, o primeiro filme sobre homossexualidade também é alemão, do ano de 1919, mas isto já é história para a próxima publicação.

Voltando ao “Raparigas de Uniforme”, deixo-vos a sinopse da Cinemateca Portuguesa: “Um dos mais famosos filmes do começo do cinema sonoro alemão, sobre o despertar dos sentimentos de uma jovem num pensionato feminino e os laços fortes de intimidade que começam a ligá-la a uma professora. À época, o filme foi proibido nos Estados Unidos e um jornalista português escreveu que a protagonista “deveria ser internada numa casa de correção”.

 Então foi este o início do protótipo da aluna que se apaixona pela professora e das relações entre mulheres dentro de colégios internos femininos que aparece em vários filmes do género…. (Spoiler de um dos próximos domingos: existem verdadeiras histórias de relações lésbicas em colégios internos que foram eternizadas em livros autobiográficos, que tratarei de vos apresentar.) De facto, filmes como “Loving Annabelle” quase parecem um remake deste. Mas falando em verdadeiros remakes, também existe o “Raparigas de Uniforme” de 1958, este já a cores.

E por hoje é tudo. Espero que tenham gostado de saber algo mais sobre a história do cinema Queer (para quem ainda não conhecia). Até ao próximo domingo!

“Fingersmith”

Fátima Cartaxo

03 de Março 2019

Este domingo trago-vos uma minissérie, um filme e o livro em que se basearam.

Comecemos pelo livro, Fingersmith, ou Falsas Aparências, é um livro de Sarah Waters, publicado pela primeira vez em 2002. A edição portuguesa veio em 2004, pela editora Bizâncio, mas neste momento encontra-se esgotada ☹.

Conta-nos a história de Sue, uma jovem órfã que foi entregue, ainda bebé, aos cuidados da Sra. Sucksby que a criou num bairro sórdido de Londres. Um dia, um vigarista elegante e cheio de lábia, a quem chamam de Gentleman, recruta-a para um plano com o intuito de enganar a jovem rica Maud Lilly, para ficar com a sua fortuna. O trabalho de Sue seria tornar-se criada de Maud e ajudar Gentleman a seduzi-la e casar-se com ela. No final do plano, Maud seria enviada para um manicómio e Sue receberia uma parte da fortuna. O plano é aceite, mas com o passar do tempo Sue vai aproximando-se cada vez mais de Maud e não sabe se deve seguir com o plano…

Depois veio a minissérie com o mesmo nome, pelo canal BBC, em 2005, composta por 3 episódios. O livro, confesso que ainda não li. Mas a série já vi e devo dizer-vos que está excelente! A sinopse da minissérie é essencialmente a mesma que a anterior.

Já o filme, foi lançado em 2016 e é sul‑coreano, distintamente das obras anteriores, que são britânicas. Em inglês, tem o título de “The Handmaiden”, em português intitula-se “A Criada”.

Passa-se na Coreia do Sul dos anos 30, na altura da ocupação japonesa. “A jovem é contratada para trabalhar para uma herdeira nipônica, Hideko, que leva uma vida isolada ao lado do tio autoritário. Só que Sookee guarda um segredo: ela e um vigarista planeiam desposar a herdeira, roubar a sua fortuna e mandá-la para um manicómio. Tudo corre bem com o plano, até que Sookee aos poucos começa a compreender as motivações de Hideko.”

Como vêm, a sinopse continua muito semelhante. O filme tem várias diferenças em relação à série e uma atmosfera bastante sombria. Ainda assim, vale a pena ver mesmo para quem já conheça a história. Gostei bastante tanto da série como do filme!

“Sex Education”

Fátima Cartaxo

24 de Fevereiro 2019

Sex Education é uma série da netflix lançada em janeiro deste ano. Otis é filho de uma terapeuta sexual, Jean Milburn, e com os conhecimentos que foi ganhando do trabalho da mãe, acaba por se tornar uma espécie de terapeuta sexual para os seus colegas do secundário, como forma de ganhar dinheiro e de se aproximar de Maeve Wiley, que foi quem teve a ideia.

Dentro do elenco de personagens, venho destacar Eric Effiong. Ao introduzirem-no na série enquanto melhor amigo de Otis, ficamos também a saber que é homossexual através de alguns comentários que profere em relação a outros homens, com quem Jean se relacionava. Creio que é uma das cenas em que a introdução da orientação sexual de um personagem gay se fez com a maior das naturalidades, como qualquer personagem heterossexual que fala da sua crush ou da sua namorada ou namorado. Isto deixou‑-me contente. O facto de Eric não ser introduzido como o amigo gay de Otis mas sim como o Amigo de Otis que por acaso é gay, como por acaso poderia ser hétero, ou de outra orientação sexual, sendo completamente natural.

Como no mundo em que vivemos nem toda a gente vê uma orientação não heterossexual ou uma identidade de género diferente como natural, não deixamos de ter episódios em que é visível o preconceito existente e em que Eric acaba por ser vítima desse preconceito, nem deixamos de ter as complicadas questões familiares tão conhecidas dos jovens LGBTI+, mesmo que os pais de Eric queiram ver o seu filho feliz.

Para além de homossexual, Eric tem descendência nigeriana, o que o torna importantíssimo em termos de representação. Eric é uma personagem não branca, claramente homossexual, mas sem cair em clichés, sendo parte do elenco regular da série. A série não gira à volta de Eric nem da sua homossexualidade, sendo uma personagem e uma característica como qualquer outra. Esta representação natural é precisa.

Eric e Anwar são os únicos rapazes assumidamente homossexuais da escola. Ao longo da série iremos, também, descobrir que uma das personagens regulares é bissexual (ou que pelo menos se sente atraído por mais do que um género, podendo não ser necessariamente bi).

Sex Education é uma série que vale definitivamente a pena ver, trata das questões sexuais com naturalidade, tratando de prestar informação responsável sobre as inseguranças sexuais dos adolescentes sem quaisquer tabus. Representa bens estas inseguranças e a diversidade de pessoas e orientações sexuais que, apesar de diferentes, passam sempre por experiências idênticas.

“Wynonna Earp”

Fátima Cartaxo

17 de Fevereiro 2019

Wynonna Earp é uma série sobre uma caçadora de demónios que precisa de quebrar uma maldição. Mas não é a protagonista Wynonna a personagem que venho destacar hoje, e sim a sua irmã, Waverly Earp, e a namorada, Nicole Haugh, um dos casais lésbicos mais queridos da televisão.

As atrizes que interpretam as personagens têm participado em várias convenções LGBT nos Estados Unidos e no Brasil devido à representatividade que a série tem trazido.

Waverly, sendo irmã da protagonista, sempre foi uma personagem com destaque. Já Nicole não aparecia tantas vezes na primeira temporada, mas a adoração foi tanta que a personagem foi ganhando cada vez mais importância ao longo da série. Ainda que numa primeira fase o casal não tenha tido tanta relevância, a química entre as duas é bem visível a partir do primeiro momento em que as personagens se conhecem. A relação que surgiu entre ambas é tratada na série com a mesma naturalidade que qualquer outra (como deve ser) e tem ganho cada vez mais espaço.

Na segunda temporada, foi introduzida uma outra personagem homossexual, Jeremy Chetri, que atualmente tem uma relação com Robin Jett, personagem que apareceu na terceira temporada. Ainda não têm tantas aparições como o casal anterior, por ser recente, mas espera-se um maior desenvolvimento.

A série terá a sua quarta temporada este ano, com 10 episódios, mas ainda não existe data de estreia. Todas as personagens regulares são incríveis e Wynonna Earp é uma das melhores protagonistas que já vi. Recomendo vivamente!

“Atomic Blonde”

Fátima Cartaxo

10 de Fevereiro 2019

Quando estreou Atomic Blonde, em agosto de 2017, dirigi-me o mais depressa possível à sala de cinema habitual, com elevadas expetativas. Como perder um filme de ação protagonizado por uma Agente Secreta bissexual?

Charlize Theron interpreta Lorraine Broughton, espiã implacável, enviada numa missão até Berlim para extrair um documento ultra secreto, que mostrará, em todas as cenas de ação que nos são apresentadas, estar à altura de qualquer desafio.

Em Berlim, Lorraine terá de trabalhar ao lado do espião David Percival, interpretado por James McAVoy. A este elenco junta-se a atriz Sofia Boutella, que interpreta Delphine, outra agente secreta, que viverá um romance com a protagonista.

O filme tem um bom roteiro e as cenas de ação são conjugadas na perfeição com uma fotografia maravilhosa e uma banda sonora incrível. As minhas expetativas foram atendidas!

“Favourite”

Fátima Cartaxo

03 de Fevereiro 2019

Esta quinta-feira estreia nos cinemas portugueses o filme “A Favorita”.

A história biográfica passa-se no século XVII, e traz-nos um triângulo amoroso composto pela Rainha Anne de Inglaterra, Sarah Chuchill e Abigail que chega posteriormente ao palácio. A doença da Rainha leva-a a deixar as decisões governativas para Sarah, conselheira, amiga e amante. Abigail torna-se aos poucos próxima de Sarah até encontrar uma boa oportunidade para cair nas boas graças da Rainha, disputando o lugar de “favorita”.

O trio é interpretado pelas atrizes Olivia Colman, Rachel Weisz e Emma Stone, respetivamente.

Vencedor do Prémio do Júri no Festival de Cinema de Veneza e nomeado para dez Óscares, “A Favorita” é uma comédia dramática a não perder!

“The Secret Diaries of Anne Lister”

Fátima Cartaxo

27 de Janeiro 2019

Hoje trago-vos um filme biográfico sobre a “primeira lésbica moderna da história” – Anne Lister – e os seus diários secretos, onde registou tudo o que vivia, incluindo as suas relações amorosas com outras mulheres. A sua personalidade forte e desafiante e a sua herança avultada, permitiram‑lhe viver como quis e com quem quis, longe dos padrões que a sociedade lhe queria impor, no século XIX.

Apesar desta abertura, o que registava de mais íntimo, nomeadamente no que toca às suas paixões, encontrava-se codificado, demonstrando algum receio de que alguém que encontrasse os seus diários os descobrisse e divulgasse. O preconceito não deixava de ser uma realidade apesar das suas circunstâncias.

Passaram mais de 100 anos da sua morte até que alguém os conseguisse descodificar. E foi graças a tal feito que hoje em dia conhecemos a sua história e podemos ver este filme, lançado em 2010, pelo canal BBC. Aproveitem! 😊

Despeço-me com a tradução de uma das frases mais famosas dos seus diários:

“Eu amo e apenas amo o sexo mais justo, e sou amada por ele em retorno, o meu coração revolta-se com qual outro amor que não o delas”.

“XXY”

Fátima Cartaxo

20 de Janeiro 2019

A primeira vez que me deparei com questões intersexo foi com o filme “XXY”, numa altura em que não ouvia falar deste tema em Portugal.

Trata-se de um filme argentino de 2007, que nos conta a história de Alex. Quando nasceu, pretendiam realizar uma cirurgia que “corrigisse” a sua ambiguidade genital, algo que o pai, Kraken, considerou que seria uma violência para o seu corpo. Para fugir dos médicos e do preconceito da sociedade, os pais, Kraken e Suli, levam Alex de Buenos Aires para uma pequena vila de pescadores no Uruguai. Um dia, Suli convida uma amiga e o marido, cirurgião, na esperança de que uma conversa com Kraken e Alex, agora com 15 anos, possa levá­‑los a considerar a possibilidade de uma cirurgia. Será que Alex pretende realizar uma operação que defina, finalmente, o sexo com que se identifica mais ou será que está tudo bem e se sente feliz com o corpo que tem?

“XXY” ganhou vários prémios e esteve presente numa série de festivais. Apesar do nome não ser tecnicamente adequado para identificar a intersexualidade, transmite bem a ideia da ambiguidade que se pretende demonstrar e dá-nos matéria para iniciarmos a importante discussão sobre questões intersexo, os preconceitos sofridos e a falsa ideia de que existem apenas dois sexos bem definidos, quando a natureza nos mostra que existem diversas variações.

Para quem não estiver familiarizado com a definição, as pessoas intersexo nascem com características sexuais que não se enquadram nas noções binárias tradicionais de corpo masculino ou feminino, podendo incluir os órgãos e glândulas sexuais e o padrão cromossómico. Em alguns casos as variações cromossómicas não se refletem fisicamente de forma visível no individuo.

Convido-vos a ver o “XXY” e a refletir sobre estas questões.

“Sexo Inútil”

Ana Ferreira

13 de Janeiro 2019

Ana Zanatti descreve na sua forma brilhante que o preconceito em Portugal mudou mas não muito. As frases usadas na década de sessenta são iguais às que se ouvem da boca de pais, amigos, conhecidos. A educação e a ignorância não mudaram de mão e continuam muito aquém do que seria esperado quase sessenta anos depois.

Joana descreve-nos o seu núcleo familiar homofóbico numa troca de mails, que não fosse a inexistência de internet, poderíamos sentir que estávamos na adolescência de Zanatti, pois os medos e as exigências permanecem as mesmas.

Cruzam-se histórias de pessoas cujos nomes ficam por revelar pois o medo ainda lá está, o medo do ódio, o medo do que a revelação dos seus nomes pode trazer. São histórias de vidas viradas do avesso, de muito choro e pouco riso, nem todas com finais felizes e algumas ainda em fase de construção.

As LGBTI fobias, a sua incompreensão, o alcance da dimensão da comunidade, a simplicidade de ser feliz, que aos olhos de tantos se torna uma batalha infinita, porque os que os rodeiam tendem a impedi-los de viver algo tão belo como o amor.

Uma visão tão real de que ainda há muitas mentes para educar neste país, que as leis existem e felizmente vão surgindo a cada ano que passa, mas as mentalidades essas demoram dezenas de anos a dar um passo.

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