CULTURA – ARQUIVO 2022

A primeira temporada do Queer as Folk estreou em 1999 pelas mãos de Russel Davies, vinte e três anos depois estreou em pleno mês do orgulho uma nova versão com oito episódios.

Russel Davies, produtor de Years and Years e It’s a Sin , criou a primeira série do Queer as Folk que decorria em Manchester. Pouco depois começou a ser exibida uma versão nos Estados Unidos da América em 2000. Ambas as versões centravam-se na vida de um grupo de amigos gays e nas suas relações, quer amorosas, quer familiares.

Teve um grande impacto na altura em que foi lançada, pois o sucesso em termos de audiências permitiu uma maior abertura para que outras séries e filmes começassem a ser exibidos mais frequentemente.

Esta nova versão foi criada por Stephen Dunn que abordou a questão da violência armada, baseando a sua história no massacre decorrido em Orlando em 2016.

Less, escrito por Andrew Greer foi o vencedor do Prémio Pulitzer em 2018 e conta a história de um escritor que se desafia a si próprio.

Arthur Less chegou a um impasse na sua vida e no dia em que recebe um convite para estar presente no casamento de um ex namorado resolve aceitar todos os convites excepto esse.

Viajamos até à França, Alemanha, Itália, Índia, Japão e voamos até ao México e no meio disto tudo tantas foram as vezes que Less pensou desistir do desafio a que se propôs, no entanto por entre aventuras e desventuras e muitos questionamentos, esta torna-se uma viagem ao íntimo do seu ser e acaba por lhe trazer as respostas que procura.

Lobo e Cão o mais recente filme de Cláudia Varejão estreou no passado dia 8 de Dezembro e leva-nos a viajar pela diversidade Queer dos Açores.

Ana e Luís tão diferentes, têm em comum a vivência e a solidão que o isolamento da ilha lhes traz. O mundo é pequeno para quem sonha dentro de fronteiras tão vincadas e ambos desafiam a realidade que os rodeia.

São Miguel é ainda muito marcada por conceitos pré concebidos e torna-se difícil quebrar barreiras e mudar mentalidades há muito moldadas, em nada diferente de tantas localidades do continente.

Lobo e Cão não nos deixa esquecer que tantas são as vozes que nem sempre se conseguem fazer ouvir. Podem ficar a saber por onde anda por estes dias consultando as salas de cinema onde se encontra em exibição, através do link que deixamos em baixo.

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Vermelho, Branco e Sangue Azul foi lançado em 2022 em portugal e é um romance de Casey McQuiston, de quem provavelmente voltarão a ouvir falar.

Casey conseguiu escrever uma história que envolve duas personagens que a serem LGBTI+ teriam um impacto profundo na vida de muitas pessoas e traria talvez a questão dos direitos humanos, mais especificamente das questões LGBTI+ para outro patamar.

Alex é o filho da presidente dos Estados Unidos da América e Henry o irmão mais novo do príncipe de Inglaterra e esta é a história do romance que surgiu de um falso relacionamento amigável.

Digam lá que as histórias de príncipes, princesas a que desde sempre nos habituaram não têm outro encanto quando alguém se lembra de as escrever sobre um olhar inclusivo e diverso.

Love, Victor estreou em 2020 e foi inspirada no filme Love, Simon que por sua vez teve inspiração na obra literária Simon vs the Homo Sapiens Agenda de Becky Albertalli.

A série desenrola-se em torno de Victor, da sua família e do seu núcleo de pessoas amigas e da descoberta da sua identidade. A família muda de cidade e com essa mudança todo um mundo novo surge na vida de Victor, não só a nível escolar como a nível intimo o que vai trazer questões que este tenta a todo o custo ver respondidas.

É uma série leve mas que questiona assuntos importantes de uma forma séria e divertida ao mesmo tempo, colocando as personagens em situações difíceis que poderiam acontecer a qualquer pessoa.

September Mornings faz-nos viajar por São Paulo através da interpretação de Liniker, recentemente vencedora nos Latin Grammy 2022, com o prémio de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira.

Estreada em 2021, a série conta a história de Cassandra (interpretada por Liniker), uma mulher trans que deixou a sua cidade de origem em busca de uma vida melhor e trabalha em São Paulo para um serviço de entregas.

A sua vida é uma luta diária mas aos poucos ela sente que vai conseguindo atingir os seus objectivos, no entanto quando menos espera alguém do seu passado surge e traz com ela uma história surpreendente que vai mudar a vida de Cassandra e de todas as pessoas que a rodeiam.

Ansiamos com expectativa a segunda temporada desta série, pois trata diversas questões de uma forma bem simples e directa.

Neil Patrick Harris é Michael na comédia romântica Uncoupled que retrata a vida de um homem homossexual e a súbita mudança na sua vida. A série é produzida por Darren Star, o produtor de Sexo e a Cidade e possui para já apenas uma temporada.

Michael trabalha numa imobiliária em Manhattan e vive uma vida fantástica com o seu namorado numa relação de 17 anos. A história da série gira à volta desta relação e conta-nos com uma certa dose de humor como é enfrentar mudanças na vida e a dinâmica que existe com as pessoas que são próximas ao casal.

Depois de vermos durante anos Neil Patrick como Barney em How I met Your Mother, este é o outro lado do actor que continua fabuloso. Uma série com episódios de curta duração para deixar todas as pessoas bem dispostas.

Evelyn Hugo casou-se sete vezes, mas terão sido os sete casamentos exactamente como os meios de comunicação publicitaram? E porque foi Monique chamada para fazer a entrevista?! Os sete maridos de Evelyn Hugo, editado em 2017, foi escrito por Taylor Jenkins Reid e conta-nos a história de uma estrela de Hollywood e dos diversos casamentos.

Evelyn entrou para o mundo do cinema no início da década de 1950 e a sua vida foi uma roleta de acontecimentos. Traçou para si uma meta, queria sair de Hell´s Kitchen onde vivia e ser famosa e foi isso que aconteceu. Mas a vida não é uma linha recta e a sua ambição por vezes levou-a a fazer escolhas que nem sempre a fizeram feliz.

Quando anunciou que ia leiloar alguns dos seus vestidos todas as revistas quiseram uma entrevista mas curiosamente Evelyn requisitou Monique Grant, uma jornalista de 35 anos, com pouca experiência.

A história está bastante engraçada e a forma como a escritora foi abordando cada casamento e desenlaçando os segredos da vida de Evelyn tornam o livro bastante agradável e curioso.

Barry e Morris, são as personagens principais desta história contada por Bernadine Evaristo. Mr. Loverman traz-nos a envolvência de um amor que luta ao longo de uma vida contra um preconceito externo mas sobretudo interno. A felicidade plena é algo que não tem idade e a saída do armário não escolhe dias nem idades.

Barry viveu uma vida de mentiras, casado com uma mulher e mantendo um relacionamento amoroso com um homem sem que esta soubesse. Os três conheceram-se em Antígua e em alturas separadas rumaram a Inglaterra, ambos se casaram para esconder o relacionamento e se manterem vivos, numa altura onde ser homossexual poderia significar a morte.

Morris há muito que se separou, mas Barry manteve o seu casamento e agora com 74 anos sente que é altura de por um ponto final nesta fachada e divorciar-se da mulher. A forma como Bernardine descreve a dinâmica familiar e os acontecimentos desta saída do armário carregados de humor fazem valer a pena a leitura do livro. A cada página que passa nos parece mais difícil que o “coming out” de Barry vá correr como esperado o que torna a história bastante original.

The Wilds é a luta pela sobrevivência de um grupo de adolescentes que sobrevivem a um desastre de aviação.

A série traz-nos à memória The Lost, mas desta vez excluam o sobrenatural pois não vão aparecer ursos polares numa ilha do pacífico! Além de que a série não vai durar imensos anos pois infelizmente foi cancelada após a segunda temporada, mas vale a pena ver ainda assim.

Poderemos pensar que se trata de mais um caso de sobrevivência típico, mas ao longo da narrativa vamos nos apercebendo que as circunstâncias são completamente diferentes e é isso mesmo que faz valer a pena ver a série.

“The First Lady” conta a história de três primeiras-damas americanas, Michelle Obama, representada por Viola Davis, Betty Ford por Michelle Pfeiffer e Eleanor Roosevelt por Gillian Anderson. Creio que isto por si já é razão suficiente para espreitar pelo menos o que por aqui se passa.

Ao longo dos anos temos visto séries e filmes sobre a governação americana, descritos pela perspectiva do presidente ou dos homens no poder, a série traz-nos a versão refrescante da liderança americana contada no feminino, bem como o trabalho que cada uma destas mulheres desenvolveu e a sua importância que muitas vezes parece ser silenciada.

Parabéns às performances das três actrizes principais que estão fabulosas e seria importante vermos mais séries como esta, dedicadas às mulheres sejam elas quais foram independentemente da sua condição socioeconómica, mas que tiverem um papel importante em termos de direitos humanos, ou que marcaram a diferença de alguma forma em termos sociais ou científicos, entre outras áreas, porque é importante dar voz a estas histórias.

Publicado originalmente em 1996, Insubmissos viu finalmente a luz do dia em Portugal em 2020, porque existem temas que ainda são tabus e dos quais muitas pessoas ainda preferem não falar sobre eles, como se o manto da invisibilidade as tornasse inexistentes. 

Quem me conhece sabe que sou devoradora dos livros de Zimler e este não escapou, autografado e tudo. Demorei a lançar o texto que estava guardado desde o lançamento do livro pois felizmente teve a devida atenção e guardei para um dia mais tarde se voltar a falar nele e desta forma não cair em esquecimento uma temática tão importante.

A história fala-nos de vários temas, e talvez o autor tenha uma ideia diferente da minha mas acho que é mesmo isso que enriquece uma obra de arte, quer seja uma pintura, quer seja um livro, o que nos transmite. Para mim a solidão e os silêncios das personagens é o que fala mais alto e como não vivi o pico da pandemia de VIH, cada vez que vejo algo ou leio sobre a temática é o que sinto.

Resumindo, um professor, o seu aluno e o pai deste fazem-se à estrada numa viagem até Paris, que se vai revelar mais do que atribulada, com confissões inesperadas, porque a vida de cada pessoa nem sempre é o que julgamos ler. Um livro que nos fala sobre a diversidade e as diferentes vivências dos seres humanos.

One of us is lying, Um de nós mente na versão portuguesa fala-nos de bullying e nas consequências que determinados silêncios e acções podem ter. Quatro jovens tornam-se alvo de investigação por parte da polícia quando um jovem morre.

A série baseada no romance de Karen M. McManus, opção para quem prefere livros, descreve o desenrolar da história desde o momento da morte do jovem e a perspectiva que cada uma das pessoas envolvidas e quais os seus segredos.

Um pouco à semelhança do 13 Reasons Why (Por treze razões), vamos descobrindo quem está mentindo e porquê, ou talvez não dado que pelos vistos não vamos ficar pela primeira temporada!

Não é uma história LGBT, mas é uma história cheia de sonhos e de personagens LGBT! Sandman é uma série baseada nos livros de Neil Gaiman com o mesmo nome que narram as aventuras de Morpheus, a personificação do sonho na mitologia grega.

A série está repleta de personagens fabulosas e misteriosas entre sonhos e pesadelos, passando pela realidade. Aos poucos vamos ficando a conhecer a família de Sandman e os poderes da cada entidade. Sim porque não são deuses mas sim entidades, manifestações de aspectos comuns a todos os seres vivos.

A família de Sandman é então composta por Destino, Morte, Destruição, Desejo, Desespero, Delírio e o próprio Sandman (Sonho). Sandman é o governante do Sonhar, o mundo para onde vão as pessoas quando sonham e onde tudo fica interligado. Para quem prefere os livros às séries é uma questão de explorar, mas atenção que é BD!

Sort Of é uma série canadense que estreou em 2021 e nos conta o dia a dia de Sabi, descendente de família paquistanesa, que toma conta de duas crianças e trabalha num bar à noite. A vida destas três pessoas parece obedecer a um ritmo metódico que promete ser abalado com a ideia de Sabi se mudar para a Alemanha, mas será que é isso que de facto vai alterar a dinâmica familiar.

A série tem uma reviravolta bastante engraçada e ao longo dos episódios vamos descobrindo as diversas histórias de cada uma das personagens. Sort Of levanta questões bastante importantes, como as relações familiares e a falta de diálogo, bem como a falta de liberdade no que concerne à descoberta ou autodeterminação da identidade de cada pessoa.

Dois jovens provenientes de mundos diferentes, com gostos e visões sobre a vida que não coincidem descobrem que é possível existirem ligações entre as pessoas que ultrapassam essas diferenças e que existem mais pontos em comum nos seres humanos para além do que podem imaginar.

Benjamin Alire Sáenz, assumiu a sua homossexualidade após muitos anos de luta interior e descobriu que escrever sobre a temática foi a melhor forma de ultrapassar determinadas barreiras e preconceitos internos.

O livro é uma história com uma certa simplicidade e leveza, que nos transporta para a inocência do desconhecido. Nem sempre sabemos definir o que sentimos e tantas são as vezes que procuramos um significado complexo para algo que afinal é tão simples.

Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo recebeu o Stonewall Book Award, entre outros prémios. O Stonewall Book Award é um prémio literário patrocinado pela Comissão Gay, Lesbian, Bisexual and Transgendered da American Library Association, que distingue anualmente as obras de ficção e não ficção de temática LGBT publicadas em língua inglesa.

Cerúleo, azul celeste ou verde mar, TJ Klune escreveu uma história tão mágica e tão simplesmente perfeita como é descrita na capa do seu livro. Editado em Portugal em 2022, a casa no mar Cerúleo venceu diversos prémios (Alex e Mythopoeic) e TJ venceu já os prémios LAMBDA (prémios literários que destacam obras LGBT).

Tal como a cor a história pode ser várias coisas, uma metáfora sobre a existência e a diversidade e a visão que temos do que para muitas pessoas é diferente e desconhecido. Linus Baker é assistente social e percorre “orfanatos” de crianças com poderes mágicos, vive uma vida de rotinas até que esta é perturbada pelo desafio proposto pela sua entidade patronal de viajar para o orfanato de uma ilha distante.

Na Ilha de Marsyas Linus vai encontrar um mundo não diferente daquele onde vivia, mas talvez uma forma diferente de ver a vida, pois nem sempre as famílias são aquelas onde nascemos e tantas vezes são aquelas que escolhemos.

Homossexuais no Estado Novo é um livro da autoria de São José Almeida, jornalista do Público desde a sua fundação.

Ao longo da sua carreira dedica-se à política em Portugal assim como à defesa dos direitos humanos, mais propriamente a questões ligadas aos direitos LGBTI+ e direitos das mulheres. Recebeu vários prémios como o atribuído pela CIG em 2009 e os Prémios ILGA em 2006 e 2009.

Neste livro a autora tenta responder à questão de como era a realidade das pessoas homossexuais em Portugal durante o século XX, enquadrada do ponto de vista da psicologia e da lei até ao ano de 1982. A realidade dos “Poetas de Sodoma”, o meio artístico nomeadamente em Lisboa e os seus confrontos com a polícia de costumes são alguns dos tópicos abordados e colocados a descoberto por nomes como o activista António Serzedelo ou o crítico de teatro Tito Lívio.

Uma minissérie que documenta o movimento dos direitos LGBTI+ nos Estados Unidos da América. Esta série foi escrita por, nada mais nada menos que Dustin Lance Black, escritor de Milk e para as pessoas mais distraídas como eu Dustin é o cônjuge do nosso adorado Tom Daley.

Curiosidades à parte a série tem um elenco fabuloso e retrata os primórdios do movimento dos direitos LGBTI+ logo após as Revoltas de Stonewall. No mês dedicado ao Orgulho LGBTI+ nunca é demais lembrar o caminho que foi percorrido até hoje e pensar no quanto ainda temos de percorrer, mas também todos os direitos que constantemente vemos serem retirados.

As marchas pelos direitos LGBTI+ são dias de celebração sim, mas são sobretudo dias de reivindicação, pois o que foi conquistado por todas as pessoas que nos antecederam pode nos ser retirado e tem de ser a população LGBTI+ a erguer-se e a exigir os seus direitos e a fazer ouvir a sua voz.

Sentia-me como se nunca estivesse no momento em que estava. Gilda não consegue parar de pensar na morte. E quando tudo parece desprovido de sentido são as pequenas coisas que nos salvam.

Emily Austin mistura várias sensações neste livro, conseguimos facilmente passar da sensação de admiração e questionamento para o riso, tão facilmente como nos questionamos sobre o sentido da vida e das coisas mais simples.

Chegou às livrarias portuguesas em Março deste ano e confesso que tropecei nele acidentalmente, sem qualquer conhecimento prévio. Mas desde as primeiras páginas que me deixou intrigada pela sua originalidade.

Amor (I)mpróprio nasce do imaginário de Marta Guerreio. Emigrou para Londres aos 18 anos, formou-se em Jornalismo e fez mestrado em Realização. Publica este livro em 2021 pela editora Chiado.

Nas palavras e nas ilustrações desmonta séculos de opressão. Seja em prosa ou poesia Amor (I)mpróprio permite o diálogo sobre a sociedade moderna, mas acima de tudo remete para  a vontade de mudança.

Temas como o corpo, pandemia, auto-estima ou doença mental são alguns dos temas que a autora nos propõe pensar e repensar.

O seu mundo é nos próximo pela presença assídua nas redes sociais, quer pelo seu trabalho mais visual, quer pelas suas descrições inusitadas. O seu activismo é disruptivo, inquisitivo, onde os dogmas são para questionar.

Judite dos Reis Ramos Teixeira conhecida por Judith Teixeira nasceu em Viseu em 1880 e morreu em Lisboa em 1959. A obra de Judith Teixeira passa despercebida à pessoa mais desatenta. De entre os autores do seu tempo contam-se António Botto, Raul Leal ou Fernando Pessoa no entanto havia, neste tempo, uma enorme distância entre estes fosse essa separação baseada no seu género e/ou na sua orientação sexual.

Lançou “Decadência” no ano de 1923, “Castelo de Sombras”  no mesmo ano , “Núa” em 1926 e “Satânia” em 1927.  Editou e dirigiu também a revista “Europa” em 1925 uma revista eclética ao estilo modernista com participação de vários escritores e poetas influentes na época.

O sucesso de Judith rapidamente se fez notar e após a primeira edição de “Decadência” a Liga de Acção dos Estudantes de Lisboa, por ordem de Pedro Teothonio Pereira, começa uma forte campanha de medidas repressivas fiscalizando livrarias e queimando as obras dos “artistas decadentes, os poetas de Sodoma, os editores, os autores e vendedores de livros imorais” (Sant’Anna: 2009, 3). Além de “Decadência” de Judith Teixeira foram também apreendidos “Canções” de António Botto e “Sodoma Divinizada” de Raul Leal. Fernando Pessoa assim como Raul Leal apenas sairam em defesa de Botto não mencionando nunca Judith. Assim estava lançado o mote para a sua invisibilização. Judith estava sozinha.

A lesbofobia leva a história a omitir as figuras históricas assim como as relações, por vezes de várias décadas, em comum com outras mulheres. O carácter homoerótico era notório e presença assídua na sua escrita. Assim, Judith realiza a conferência “De Mim” em que explica “as minhas razões sobre a vida, sobre a estética, sobre a moral (1926).

Judith Teixeira vai sendo gradualmente silenciada. Após o lançamento de “Núa” surgem duras criticas e a autora chega a ser violentamente caricaturada. Marcello Caetano na revista “Ordem Nova” refere-se a Judith como “desavergonhada” e ainda José Régio refere que “Todos os livros de Judith Teixeira não valem uma canção escolhida de António Botto.”

Associado a Judith Teixeira aparece muitas vezes o termo “lesbianismo-fantasma”. Segundo Ana Luísa Amaral trata-se de uma “…autocensura, um espaço de sombra, esquizofrenante, de presença e ausência. Era o conceito vitoriano de melhor amiga, que permaneceu. Era pesado para a mulher, mas havia um espaço de liberdade que é o do não dito , da sombra”. Anna Klobucka defende ainda que “ também houve, no caso dela, a intervenção do que em inglês se chama de ageism, preconceito ligado à idade” uma vez que a autora começou a publicar quando já tinha mais de quarenta anos e argumenta ainda que “o erotismo dos seus poemas devia ser ainda mais indecente/indecoroso por causa disso”.

Depois da morte artística no seguimento da crítica de José Regio dá-se o silêncio sobre a sua vida. Sabe-se apenas que esteve fora do país não sendo conhecido o destino. Segundo o registo de óbito, morreu viúva, sem deixar filhos nem bens e sem fazer testamento.

O Município de Viseu realiza desde 2016 o prémio de Poesia Judith Teixeira que “visa homenagear simbolicamente a vida e obra da mulher e escritora (…) mas também estimular a criação cultural e literária, procurando auxiliar os autores no acesso à edição das suas obras” pode ler-se no site oficial do evento.

Will e Will, escrito por John Green e David Levithan foi lançado em 2010 e conta a história de um grupo de jovens tão semelhantes e tão diferentes. É nessa semelhança e diferença em simultâneo que se dá o encontro entre Will e Will (o outro Will). As suas vidas nunca mais serão iguais após este acontecimento.

De um encontro completamente improvável e inesperado  nasce um novo rumo de vida para todas as pessoas envolvidas. A trama passa-se num registo engraçado e leve que se adença em questões mais profundas com o decorrer da mesma.

A vida vista a partir de uma experiência quando a idade é apenas um número e nem sempre as certezas de hoje não são as de amanhã. Tiny e Will são dois amigos pouco prováveis e a forma como Tiny decide mostrar todo o seu amor por Will é tudo menos convencional.

Num mundo em transição esta podia ser a história de tantas pessoas, Jonas Rasmussen traz-nos um relato tão actual de uma história com mais de vinte anos. Num formato de documentário/animação Jonas conta a história de Amin Nawabi e a sua vivência enquanto refugiado afegão.

A situação passa-se há mais de vinte anos e descreve a forma como Amin chegou à Dinamarca e a sua experiência, mas podia ser uma história bem actual dado a situação que ainda hoje se vive no Afeganistão.

A Discovery of Witches é uma série para fãs do fantástico mundo de bruxarias, entidades vampíricas e pessoas demoníacas. A série surgiu em 2018 e é baseada na Triologia das Almas, obra da escritora Deborah Harkness. Por isso para quem preferir ler tem sempre a opção de ir à procura dos livros.

Uma historiadora descobre possuir poderes até então adormecidos quando faz pesquisa numa biblioteca em Oxford. O Manuscrito que requisitou está protegido por um feitiço e por muito tempo esteve desaparecido, mas ela tem uma conexão mágica com o mesmo e ele aparece misteriosamente.

A vida de Diana (Teresa Palmer) muda completamente a partir desse dia e terá a ajuda de várias entidades tais como Matthew (Matthew Goode) nas descobertas que terá de fazer para resolver o mistério do livro.

Com Zoe Kravitz no papel principal, High Fidelity, estreou em 2020 e fala sobre relacionamentos. Três pessoas trabalham numa loja de discos que ao contrário do que a maioria das pessoas poderia pensar está na moda, apesar de vivermos num mundo cada vez mais digital.

Rob (Zoe) vai analisando os seus relacionamentos amorosos, Simon e Cherise que além de trabalharem na loja fazem parte das amizades de Rob vão tentando ajudá-la no processo de análise. Para já existe apenas uma temporada e não se avizinha renovação mas tudo é possível. A série tem uma banda sonora muito, muito, muito boa e um humor muito bem construído.

David Leavitt mostra-nos as ruas de Lisboa na década de 40 em plena ditadura ao contar a história de quatro pessoas no seu livro, Dois Hotéis em Lisboa, lançado em 2014.

Dois casais provenientes da Europa em guerra estão alojados em dois hotéis diferentes na mesma cidade e que por coincidência possuem o mesmo nome. Ambos têm como destino a América mas até o barco que os irá transportar chegar a ligação entre estas quatro pessoas vai mudar.

Os planos que fizeram desde que chegaram a Lisboa depois da Guerra ter destruído os seus sonhos, vão ser virados do avesso com as novas amizades e a vida nunca mais vai voltar a ser a mesma.

Longtime Companion lançado em 1990, foi o primeiro filme sobre SIDA a ser produzido. O título do filme era a designação utilizada pelo New York Times durante a década de 80 para descrever os casais homossexuais cada vez que alguém morria em consequência de ter SIDA (companheiros de longa data).

Com algumas caras conhecidas Norman René descreve-nos o amor e companheirismo de um grupo de amigos que ao longo dos anos foi diminuindo devido ao elevado número de mortes que ocorreram por falta de conhecimento, assistência médica, divulgação, entre outras questões.

Um filme a não perder para que relembrar a realidade vivida por tantas pessoas e para que desta forma a mesma não se repita e tantas vidas se percam.

Everybody’s Talking About Jamie, realizado por Jonathan Butterell saiu em 2021 e conta a história de um rapaz britânico que luta contra o preconceito e o bullying. É baseado numa história verídica que originou um documentário em 2011, que inspirou um musical em 2018 e que resultou no filme em 2021.

A história de Jamie New deu muitas voltas e representa a história de muitas pessoas jovens que infelizmente sofrem discriminação, e que nem sempre encontram o apoio de que necessitam. Com muita música e glamour à mistura o filme conta-nos diferentes histórias de vida e diferentes lutas.

Conseguem imaginar uma mistura de Alice no país das Maravilhas e o mundo de jogos de computador narrados num livro?! Este é o mundo de Um Mar sem Estrelas lançado em 2019 e escrito por Erin Morgenstern.

A vida de Zachary muda subitamente quando lê a sua própria história num livro. Que portas podem ser abertas e que histórias mais podem ser contadas, que estranhos mundos existem em simultâneo e qual o papel das abelhas.

Uma história fabulosa, que tem tanto de fantástica como poderá ser uma metáfora para as nossas vivências e existências. Um elogio fantástico aos livros e à imaginação que nos envolve desde o primeiro instante.

Ás de Espadas da autoria de Faridah Àbíké-Íyímídé, lançado em Janeiro deste ano, foi uma verdadeira surpresa que aconselho vivamente a lerem. A autora conseguiu no seu primeiro livro com duas personagens centrais envolver-nos numa história que tanto tem de real num mundo que tal como uma carta de um baralho por vezes parece que está mesmo virado do avesso.

Faridah conseguiu de uma forma brilhante cruzar temas que tantas vezes são silenciados, envolvendo Devon e Chiamaka num mundo de racismo, LGBTI+ fobia, ódio, no que inicialmente poderá parecer apenas uma brincadeira de jovens adolescentes. E será que todas as pessoas são tão inocentes quanto parecem ser?

Para quem viu ou leu 13 Reasons Why, e ficou com saudades de algo do género, esta é uma leitura que se assemelha um pouco em termos de suspense, por isso espero que façam uma adaptação para série ou filme pois creio que poderia ser interessante.

Benjamin saiu em 2018 e foi produzido por Simon Amstell (Carnage) o humorista britânico. É uma comédia dramática com humor tipicamente inglês que descreve a vida de Benjamin (Colin Morgan) um jovem realizador de cinema com problemas de socialização e de incapacidade para relações amorosas.

Quando conhece Noah (Phénix Brossard) os seus receios e dúvidas transformam-se numa bola de neve que o tentam engolir aos poucos ao mesmo tempo que ele luta para que a sua relação dê certo.

Benjamin é uma forma engraçada de explicar que nem sempre temos e conhecemos as ferramentas adequadas para sermos felizes, mas por vezes é necessário respirar um pouco e darmos inclusive alguns passos diferentes dos habituais pois talvez a falha esteja ai e seja altura de mudar.

Filme de 2021 American Insurrection com algumas caras mais ou menos conhecidas, Anne Dempsey descreve-nos os Estados Unidos da América, governados por uma milícia auto proclamada Voluntários.

Todas as pessoas racializadas, não cristãs, não cis ou contra o estado foram sujeitas a uma triagem e marcadas com uma tatuagem em formato de código de barras. Depreende-se que estarão sujeitas a diversos tipos de controlo mas a história incide num grupo de pessoas que se refugiou numa casa de um dos Voluntários e prepara a sua fuga para o Canadá.

O grupo possui todo um conjunto de regras e rituais de forma a manter o equilíbrio e a sanidade tendo em conta o que se passa à sua volta, mas as surpresas acontecem e essa pseudo paz e tranquilidade irá ser ameaçada.

Produzido em 2020 Through the Glass Darkly é um thriller com uma reviravolta bastante interessante. Com Robyn Lively (Twin Peaks) e Shanola Hampton (Shameless) nos principais papéis, o filme produzido por Lauren Fash conta a história do desaparecimento da filha de Charlie (Robyn).

Numa típica cidade do interior, cheia de preconceito, Charlie é olhada de lado sempre que entra em algum estabelecimento ou se pronuncia sobre o desaparecimento da sua filha e até o chefe da polícia suspeita da sua inocência.

Subitamente, uma adolescente, filha de um empresário local desaparece e Charlie começa a desconfiar que as duas situações poderão ter algo em comum e tenta desvendar o mistério juntamente com Amy (Shanola) uma repórter em busca da verdade.  

Gods Own Country é um romance de 2017 protagonizado por Josh O’Connor (The Crown) e Alec Secareanu (Ammonite) nos principais papeis. A história decorre numa zona pastoril em Inglaterra na fazenda da família de John (Josh), onde tudo parece decorrer no seu próprio tempo e cujas tarefas este realiza de forma resignada e revoltada ao mesmo tempo.

A vida da fazenda começa a mudar quando o pai de John contrata um jovem oriundo da Roménia para ajudar, a contradição entre a solidão e a apreensão de ver o seu espaço invadido por pessoas estranhas cresce dentro de John e é interessante ver o desenrolar da relação entre as duas pessoas.

Comparável por muitas pessoas ao filme de 2005 Brokeback Moutain, Gods Own Country descreve-nos a realidade que muitas pessoas vivem, em termos de isolamento, e fazendo um paralelismo com a actual situação pandémica, talvez seja necessário contar mais este tipo de histórias e perceber as diferentes realidades das pessoas LGBTI+ e os diferentes tipos de vivências, sem cairmos nos clichés cinematográficos.

A Biblioteca da Piscina é o primeiro livro de Alan Hollinghurst e foi escrito em 1988, tendo sido reeditado recentemente pela D. Quixote em 2021. A história decorre em Londres no início dos anos oitenta.

William Becwith é um jovem assumidamente gay que vive confortavelmente a sua vida devido à riqueza do seu avô, repartindo o seu tempo entre idas ao ginásio, passeios descontraídos, encontro fortuitos e conversas com amigos em clubes tipicamente britânicos.

A sua vida é agitada quando subitamente se cruza com a existência de Charles, Lord Nantwich que o convida a escrever as suas memórias, entregando-lhe uma série de diários. Temendo que a tarefa que Charles lhe propõe lhe tome demasiado do seu precioso tempo de ócio William sente-se tentado a recusar, mas ter aceite este desafio irá mudar a sua vida de uma forma quem o próprio ousaria pensar.

Editado pela primeira vez em 2013 Trans Iberic Love permanece ainda tão actual nos dias de hoje. Raquel Freire realizadora, escritora, activista entre outras facetas tão ou mais importantes descreve nos que as formas de amar podem ser tão distintas quanto as pessoas e as suas identidades. Que as barreiras que vemos à nossa volta, somos nós que tantas vezes as erguemos em torno de nós inconscientemente.

A paixão de duas pessoas num mundo em constante mudança e evolução pode ser tão mutável quanto a própria evolução, sem que as pessoas envolvidas se deem conta. Maria, proveniente de Portugal e José, de Espanha, apaixonam-se antes de se conhecerem.

O livro descreve-nos a vida destas duas pessoas, a sua existência individual e a visão de cada uma da relação, numa perspectiva bastante interessante e pertinente. Um livro bastante surpreendente que aconselho vivamente a lerem, dada as questões que vai levantando ao longo do desenrolar da história.