MARCHA VISEU 2018
No dia 7 de Outubro de 2018 mais de 1000 pessoas marcharam pelas ruas de Viseu naquela que foi considerada “A Marcha do Amor”
Grupo de Trabalho
Amnistia Internacional – Núcleo de Viseu
Bloco de Esquerda – Grupo de Viseu
Colectivo LGBTI Viseu
Juventude Socialista (Concelhia e Federação Distrital de Viseu)
Olho Vivo Viseu
PAN – Grupo de Viseu
SOS Racismo – Grupo de Viseu
UMAR Viseu
Viseu Jovem Pela Igualdade
Viseu, dia 7 de Outubro, uma tarde calma de domingo que há muito se espera. Meses de contratempos, de surpresas boas e más, de cansaço e de muitas horas de trabalho, mas nesse dia só se vêm sorrisos. São 15:00 quando chego ao Jardim de Santo António e deparo-me com algo que me fez sorrir ainda mais. Centenas de pessoas conversam animadamente entre cartazes, por todo o lado se vêm as cores LGBT estampadas em t-shirts, bonés, pulseiras e algumas bandeiras. Acho que tentamos disfarçar mas o nervosismo que nos acompanhou até hoje desde que este projecto começou teima em permanecer num misto de emoção com o que vejo à minha volta. Ler o manifesto foi o culminar de meses de trabalho e a esperança de que, de alguma forma terei feito a diferença mas ver a massa humana que preenchia cada vez mais aquele jardim já pequeno para tanta gente, ver que o sonho se tornara realidade teve um impacto que até hoje me preenche. Obrigada a todos os que saíram à rua nesse dia e marcharam connosco pelos Direitos Humanos.
Ana Ferreira (Membro do Colectivo LGBTI Viseu)
Os discursos das Organizações, Partidos e Colectivos decorreram antes do início da Marcha
Amnistia Internacional – Grupo de Viseu
AMPLOS (Porto)
Bloco de Esquerda Viseu
Catarse Movimento Social (Vila Real)
Juventude Socialista (Concelhia e Federação Distrital de Viseu)
Marcha de Guimarães
Marcha do Orgulho do Porto
Olho Vivo Viseu
Opus Gay
PAN Viseu
Panteras Rosas
Portugal Gay
Colectivo Somos Blergh
SOS Racismo
UMAR Viseu
Viseu Jovem Pela Igualdade
“Todos os dias os direitos humanos são postos à prova lembrando-nos que nestas questões nada está adquirido, nada é estanque.
Não é preciso pensar muito para elencar diversas razões para se marchar contra as fobias associadas à população LGBTI+. Num mundo onde amar é criminalizado, onde pessoas são assassinadas todos os dias há muito a fazer, há muito a conquistar.
Quem é que em pleno século XXI pode por em causa que somos todos iguais? O que nos torna seres humanos assim tão diferentes que dite que há seres superiores a outros? O facto de amar alguém do mesmo sexo, o pigmento da nossa pele, o género, a capacidade ou incapacidade física, o país de origem ou as posses económicas torna-nos diferentes? Quem amamos, é uma mera característica que nos torna individualmente mais ricos. A diversidade enriquece e fortalece a Humanidade e não acreditem se ouvirem o contrário pois os “Hitleres” da sociedade encontram-se à espreita quando menos esperamos ditando aleatoriamente o que é correcto ou errado baseando-se em crenças e ideologias ultrapassadas dignas de neandertais.
Para mim a 1ª Marcha pelos Direitos LGBTI+ de Viseu significou uma grande conquista na luta contra a discriminação e fobias associadas não só à comunidade LGBTI+ mas a todas as minorias que são vítimas de discriminação e que não podem ser esquecidas nem dissociadas desta comunidade.
Numa cidade do interior do país, marcada pela violência, invisibilidade e medos associados desde sempre aos antepassados fascistas e opressores da liberdade, ter mais de 1000 pessoas numa marcha pacífica, quer a nível individual, colectivo, partidário, bem como, a presença de Rosa Monteiro, Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, é o reconhecimento de que está na altura de mudar e eliminar o preconceito. Conseguiu-se perceber que a cidade de Viseu se aproxima, cada vez mais, de um panorama de abertura ao diálogo e evolução de mentalidades para que desta forma todas as pessoas possam ser quem são.
Se me perguntarem o que senti no dia da marcha, posso dizer que a palavra orgulho não descreve tamanha felicidade. Felicidade por poder assistir ao nascer de uma semente que demorou demasiado tempo a dar frutos. Semente esta que nasceu do cuidado, carinho, trabalho mas também da revolta de um conjunto de pessoas que perceberam que o ódio reinou durante um período demasiado longo e que era imperativo terminar. Feliz por ter a oportunidade de assistir ao nascimento de algo que dará mais frutos que serão colhidos por todas as pessoas que, de alguma forma, não se viam representados no silêncio e invisibilidade que governava sem regras. A semente foi plantada e cabe-nos a todos cuidar para que possa continuar a crescer vigorosamente.
Não foi o fim, pois há ainda muito a fazer contra a perseguição que todos os dias a população LGBTI+ é sujeita em Portugal e no mundo.
Este trabalho tem de continuar mais forte do que nunca, unindo todas as pessoas que se recusam a ficar escondidas nos armários impostos pela sociedade, na luta pela liberdade, igualdade, amor e direitos humanos. Chega de armários, chega de amarras, chega de prisões, chega de todo esse medo que nos persegue e que nos faz reprimir um beijo, uma carícia.”
Cláudia Soares (Membro do Colectivo LGBTI Viseu)
“Foi com muito prazer e orgulho que participei, a 7 de outubro de 2018, na 1.ª Marcha Pelos Direitos LGBTI+ de Viseu. Uma verdadeira marcha do amor!
Porquê marchar? Para celebrar a diversidade. Para dizer não ao preconceito e à discriminação. Para afirmar o direito à igualdade. Todas as pessoas, independentemente da sua orientação sexual, identidade e expressão de género ou características sexuais, devem sentir-se orgulhosas dos avanços que conseguimos nesta matéria. Nem menos, nem mais: direitos iguais! Quem pode discordar?
Muito se tem conquistado nos últimos anos, desde logo na legislação – com o fim da discriminação no acesso ao casamento e à adoção, por exemplo; ou, mais recentemente, em agosto de 2018, com a entrada em vigor da lei que garante o direito à autodeterminação da identidade e expressão de género e à proteção das características sexuais – histórica porquanto cria em Portugal, pela primeira vez, um quadro legal que vem proteger dignamente pessoas trans e intersexo.
No entanto, sabemos que muitas pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo (LGBTI) continuam a deparar-se com discriminação e violência em áreas fundamentais da vida: na escola, na família, no trabalho, na saúde, no espaço público…
Como sublinhado no manifesto da marcha, transformar esta realidade requer que trabalhemos em conjunto na desconstrução dos estereótipos de género – estereótipos bem enraizados sobre o que é ‘um homem’ e ‘uma mulher’, sobre o que é ‘masculino’ e ‘feminino’.
O compromisso do Governo está bem patente no Plano de Ação de Combate à Discriminação em Razão da Orientação Sexual, Identidade e Expressão de Género, e Características Sexuais – o 1º plano de ação autónomo que existe para esta área em Portugal, integrado na Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação 2018-2030 aprovada em março de 2018.
Uma das áreas prioritárias é a saúde e por isso estamos a trabalhar, com a área governativa da Saúde, num plano estratégico para as questões trans e intersexo. Este plano traduz-se, entre outras coisas, na elaboração de um modelo de intervenção em linha com os Standards of Care da WPATH – World Professional Association for Transgender Health e no desenho de ações de formação específica sobre esta temática para profissionais de saúde em todo o país. Este trabalho está a ser feito em conjunto com as associações LGBTI, que foram auscultadas desde o início e dão um contributo fundamental a partir do conhecimento e experiência que têm adquirido ao longo dos anos.
Não só Viseu mas todo o país está de parabéns, pelas marchas LGBTI que se realizaram ao longo do ano de 2018 em Braga, Bragança, Coimbra, Faro, Funchal, Lisboa, Porto e Vila Real. Continuemos esta caminhada lado a lado!”
Rosa Monteiro, Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade
“Quando chegamos a Viseu, nunca imaginamos aquilo que iríamos ver. Ver tanta gente ali junta ultrapassou todas as expectativas que poderíamos ter para uma primeira marcha, numa cidade relativamente pequena, como Viseu.
Foi um momento particularmente importante para mim, por ter sido uns dias após o meu coming out como bissexual, e foi um privilégio poder marchar de bandeira bi às costas, e ler o manifesto bi pela primeira vez, na vossa cidade.”
Mia de Seixas (Colectivo Somos Blergh)
“A cada beijo uma revolução (Autor desconhecido)
MUDANÇA.
É a palavra para descrever o dia em questão. Foi um enorme prazer ter podido participar da primeira marcha em Viseu. Neste abrir de portas para novos caminhos, para a igualdade, respeito e aceitação. Para esta luta contínua presente em muitos de nós. Ver a união, amor e amizade partilhados, por membros da comunidade LGBTQIA+ e simpatizantes, não só serviu de inspiração, como, mostrou que juntos somos mais fortes.
Apesar de ainda estarmos a um longo caminho da MUDANÇA total, com a “renovação” de mentalidades, livre dos costumes e valores erradamente enraizados, e do que é considerado moralmente certo ou errado, são, estes pequenos, grandes passos que fazem e vão fazendo toda a diferença.
Por isso, um PARABÉNS, à iniciativa, aos responsáveis pela mesma, a todos os que permitiram e auxiliaram para que a mesma acontecesse e a todos nós que saímos à rua em prol de uma nova realidade.”
Vanessa Injai
“Quando fiz planos para ir a 1ª Marcha LGBTI de Viseu, estes foram feitos com a minha namorada, o planos eram irmos as duas, para que não me sentisse sozinha e para que pudéssemos lutar juntas por uma causa que nos diz tanto e esperava chegar lá e ver uma marcha pequena, “com meia dúzia de gatos pingados” como dizemos lá na terra, com um ambiente pesado… No entanto, para grande surpresa minha, nada disto se verificou. Acabei por ir sozinha (infelizmente), a marcha teve cerca de 1000 pessoas, e o ambiente era alegre, de pertença e acima tudo de luta por uma sociedade mais justa para nós. Adorei sentir que apesar de estar sozinha, não estava sozinha, sentir que não sou a única a não caber nas caixinhas que nos atribuem à nascença, sentir que cada vez há mais pessoas foras da comunidade LGBTI a se consciencializarem e a lutarem por uma sociedade mais justa. Para mim foi um prazer fazer parte deste PEQUENO momento na História de Viseu, e espero poder fazer parte de muitos mais.”
Sara Moreira (Membro do Colectivo LGBTI Viseu)
Como Coordenadora do Grupo de Viseu da Amnistia Internacional (AI) estive envolvida nas iniciativas preparatórias da 1ª Marcha LGBTI+, tendo sido uma oportunidade excepcional para conhecer pessoas de outras colectividades que vestiam a camisola pelos direitos humanos. Tratando-se da 1ª Marcha que se realizava em Viseu foi com grande expectativa que nos juntámos no Jardim Sensorial de Santo António para apresentar as motivações com que iriamos marchar. Atendendo a que as petições da Amnistia Internacional têm sido uma forma eficaz de sensibilização e pressão relativamente aos direitos LGBTI, também convidámos os presentes a, no pós-marcha, assinarem as petições relativas a duas defensoras de direitos LGBTI+, a Marielle Franco e a Vitalina Koval. O Grupo de Viseu da AI e a Representante da Direcção da Amnistia Internacional Portugal desfilaram na 2ª posição da Marcha, erámos um pequeno grupo de activistas, identificados com os nossos coletes e tarjas da AI, e foi com muita emoção e alegria que fizemos o trajeto, ao som dos tambores e das “palavras de ordem”, assistindo, também ao envolvimento das pessoas que estavam a assistir. Já no Rossio, depois da leitura do Manifesto, dois membros do Grupo declamaram poesia e houve uma enriquecedora partilha de testemunhos e experiências com outras colectividades e pessoas. Esta 1ª Marcha dos Direitos LGBTI+ de Viseu, enquanto cidadã e membro da AI, fez-me sentir que estávamos a fazer a diferença, sensibilizando para a não discriminação da população LGBTI+, lutando contra preconceitos e cumprindo a palavra de ordem “Nem menos nem mais, direitos iguais”
Maria José Santos, Coordenadora do Grupo de Viseu da Amnistia Internacional
“1ª MARCHA PELOS DIREITOS LGBTI + DE VISEU
UMA EXPLOSÃO FESTIVA DE CIDADANIA QUE FICARÁ NA HISTÓRIA DA LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS EM PORTUGAL
A 1ª Marcha Pelos Direitos LGBTI+ em Viseu foi uma jornada festiva pela liberdade no amor e autodeterminação de género, uma alegre e emotiva explosão de cidadania. Muitos viseenses foram para a rua ver passar a marcha, por curiosidade, e alguns devem ter-se sentido frustrados por não verem o desfile de uma fauna esquisita, como teriam imaginado, mas uma manifestação de pessoas absolutamente normais, na maioria jovens, mas também idosos e casais com crianças, com cartazes feitos à mão que expressavam bem a ânsia de derrubar preconceitos: “Eu amo quem quiser, tenha o género que tiver”, “ A cura do preconceito é mais amor, educação e cultura” ou “Queremos educar os nossos filhos com amor”.
O dia 7 de Outubro de 2018 ficará nos anais da história da luta pelos Direitos Humanos em geral, e pelos direitos LGBTI+ em particular, em Viseu e, por extensão, em Portugal. Reunir mais de mil pessoas (números da polícia) numa cidade do interior, marcada pelos conservadorismo e por preconceitos anacrónicos, como a homofobia, a manifestarem-se por uma causa considerada pelos guardiões da moral atávica e retrógrada, como “fracturante”, não é um facto despiciendo.
Como reconheceu Rosa Monteiro, a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, ao intervir no Rossio, “na educação, no trabalho, as pessoas ainda sofrem um conjunto de dificuldades, de discriminação, de intolerância devido à sua orientação sexual, à sua identidade e expressão do género e às suas características sexuais”.
Houve alguma evolução nos últimos tempos, mas ainda estamos longe de ter uma cidade livre de preconceitos, passados 13 anos da Concentração “Stop Homofobia” que reuniu em Viseu, a 15 de Maio de 2005, 300 pessoas e 14 organizações LGBTI e de defesa dos Direitos Humanos, para protestar contra as agressões a homossexuais e até heterossexuais (como um pai que se despedia do filho com um abraço e por isso, foi tomado por gay) organizados por um gang de cerca de 30 ou 40 pessoas (foram identificados 5 homens e 2 mulheres entre os 20 e os 30 anos), sem que as autoridades tivessem tomado as atitudes próprias de uma democracia e de um Estado de Direito. Na altura só havia duas organizações de Viseu solidárias com as vítimas e na convocatória da concentração: a “Horus – Associação Gay, Lésbica, Bissexual e Transsexual”, criada nessa altura, e o Núcleo de Viseu da Associação Olho Vivo. Mas tivemos ao nosso lado e à frente da mobilização a nível nacional activistas e associações LGBTI, como Sérgio Vitorino, da “Panteras Rosa” e Paulo Vieira, da “Não te Prives – Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais”. Em 2005 ainda se verificaram algumas provocações homofóbicas, ao contrário do que aconteceu agora, talvez em grande parte, devido à onda gigante de gente alegre e determinada em avançar na direcção de um futuro melhor, com mais amor, paz e direitos iguais para todos e todas, independentemente do país de origem, da etnia, da religião ou ausência dela, da identidade de género ou expressão sexual.”
Carlos Vieira, Associação Olho Vivo – Núcleo de Viseu
“Senti orgulho por fazer parte da marcha, senti orgulho por o meu namorado caminhar a meu lado e senti um enorme, mas enorme orgulho, pela minha irmã e cunhada dispenderem o seu tempo, esforço e energia nesta luta pelos direitos humanos. Pois é apenas disto que se trata e nada mais, uma marcha pelos direitos humanos!”
Inês Ferreira
“Lutar no interior do País, e fora das grandes capitais do litoral, em terras de tradição machista, encorajadas por uma Igreja ainda muito inquisitorial, apoiada por partidos de direita que entretecem laços entre si de apoio mutuo para se manter no Poder, é um acto de coragem e valentia que me orgulho de apoiar neste colectivo lgbti, em que aliás as Mulheres, são as grandes obreiras.
Parabéns a todas e a todos, por lutarem pela Cidadania de tod@s os Portugues@s, condição para continuarmos a progredir na Igualdade e Fraternidade, sustentáculos da nossa Republica e do País que tod@s estamos a construir. Para a Frente é o caminho!”
António Serzedelo, OpusGay
“Foi um dia especial.
Foi um dia muito gratificante.
Foi um dia que trouxe esperança, e me fez acreditar que talvez seja possível.
Foi um dia mágico, e espero poder fazer parte de mais dia assim.”
Filipa Aguiar
“Mais que inclusão, um membro de algo maior que eu.”
João Figueiredo
“Nestes últimos anos temos sido tudo, na boca de todos. Na marcha fomos mais de mil a levar ao peito todas as cores que a nossa liberdade nos permite.
O orgulho geral de ver várias gerações unidas em cânticos de amor e coragem, foi uma experiência muito mais emocionante do que pensava que seria.
Foi sem dúvida um dia mágico e não me refiro à quantidade de unicórnios mas sim ao que nos unia a todos. A luta pelo direito de amar quem quisermos sem opressões.”
Micael de Almeida
“Foi uma jornada loucamente veloz e que ainda agora, cinco meses volvidos, me parece quimérica, deixando em mim a mesma sensação imprecisa, feliz mas nostálgica, dos sonhos. Ainda assim, recordo com precisão alguns dos momentos que estão na origem da Marcha do Amor, de como entre reuniões de cafés e trocas de e-mails se decidiu que um dos dias do Desobedoc 2018 (Mostra de Cinema Desobediente) seria dedicado às causas LGBTI+. De como considerámos importante reunir vários ativistas da causa em debate lançando a semente para a primeira marcha de Viseu.(…)
Nos dias anteriores tinha estado de férias fora do país, regressei sem saber muito bem o que esperar desse dia. Ao caminhar até ao Jardim de S. Teotónio, cresceu em mim uma ansiedade alegre, um nervoso miudinho, como quem vai a um primeiro encontro. Ao chegar ao jardim, ao esperar no jardim, ao ver as gentes chegarem… Senti o que todos terão sentido. Felicidade e liberdade, o sentimento de estar a fazer o que é certo, a esperança de ser possível uma sociedade inclusiva e justa, em que cada qual ama quem quer, como quer e é quem é. (…)
As mais de mil pessoas escaparam em muito à perspetiva mais otimista que poderia ter. Os vídeos ainda me causam comoção. As recordações reforçam a certeza de que a luta não pode parar até que todas as pessoas sejam tratadas com o mesmo respeito, pela lei e pela sociedade, em todos os contextos, com toda a liberdade.”
Ana Carolina Gomes
Com o tema pela Liberdade no amor e autodeterminação de género, volvidos 13 anos desde a marcante marcha realizada, esta 1ª Marcha LGBTI Viseu, foi um passo importante de realce à liberdade de expressão, foi a marcha do amor, com todos e em Viseu.
É preciso que se respeite e se incite o respeito, enquanto presidente da Concelhia de Viseu da Juventude Socialista foi um orgulho ter o ónus de poder colaborar e apoiar com outras dezenas de associações por uma causa que, de forma simples, é “Nem menos nem mais, direitos iguais”.
Ricardo Abreu, Presidente da Concelhia de Viseu da Juventude Socialista
O que se sente ou se pensa quando vimos uma cidade com tanta história quebrar com as malhas do preconceito,… alegria! Mas alegria não basta para definir um sentimento que é resultado de tantos outros, alegria, espanto, raiva, luta, liberdade, vida, liberdade, liberdade e liberdade de novo, porque num país com mais de 40 anos de democracia e liberdade há ainda quem não lhe conheça o verdadeiro sabor. Algures nestas terras lusas, porque de Camões, porque de Viriato, porque dos que hoje a habitam, tem quem de antes e de hoje nunca tenha saboreado esse sentimento, de ser GENTE de pleno direito, na cor da pele, no género que é seu, no sexo transportado no seu corpo seu terreno de todas as liberdades, no amor que sente por quem quer que seja, tem quem ainda não saiba gritar essa liberdade. Não a sabe gritar porque vive ainda amordaçada num velhinho ditador de que os homens não choram e podem, devem, bater na mulher.
O lugar das mulheres é na cozinha, e caladas, enquanto os seus donos, duvidosos machos de uma criação de futebol, Fátima e pátria, se deliciam com senhoras praticantes da mais antiga profissão deste mundo. Um país que duas mulheres é luxuria de fantasias nunca vividas tão pouco desejadas, mas dois homens são ofensa, repudio, castigo, porque este país como o mundo tem sido de homens e o que as mulheres sentem, pensam, acham, desejam, querem não é importante, não faz parte da matemática machista da humanidade. Por isso o que se sente quando uma cidade como a de Viriato sai à rua para mais de 40 anos depois do 25 de Abril gritar LIBERDADE sinceramente não sei, porque se por um lado é a vitória de mais uma batalha, pelo outro é a raiva das vidas que ficaram mutiladas, perdidas antes deste dia.
E saber que hoje nada, mesmo nada, do que foi conquistado, o foi de facto, e que amanhã mesmo podemos acordar com todos os castelos de liberdade, de amor, de vida caídos como se de baralhos de cartas fossem feitos ou de areia junto de um mar que vive em constante tempestade politica, capitalista, machista, onde todas as fobias foram arrumadas na prateleira que não no esgoto, porque amanhã, bem amanhã é outro dia e os senhores de fato querem ter todo o seu preconceito à mão. O que senti? Senti que a história ainda está todinha por se escrever, porque uma liberdade que começa dizendo que uns têm mais direitos que os outros, é uma história que começa mal. Bravo, minhes braves, porque não se sabe quantes de vós pensou várias vezes antes de ir ali marchar, e mesmo tendo em conta todos os possíveis revés, fizeram com que cada passada, cada grito mesmo que gritado em silêncio, vale-se cada golfada de ar, cada batida do vosso coração! O que se sente enquanto pessoa Gay, homossexual, bicha, paneleiro, editor do primeiro portal sobre questões LGBT+ em Portugal, e ativista envolvido em tantos primeiros passos desta minha, tua, nossa liberdade, sente-se que valeu a pena todos os passos dados até aqui, consciente que amanhã temos de continuar TODES a caminhada!
João Paulo , Portugal Gay
“Foi uma honra participar na organização da 1ª Marcha Pelos Direitos LGBTI em Viseu e estar presente no dia 7 de Outubro de 2018, ao lado de mais de 1000 pessoas que se juntaram para dizer basta ao preconceito e sim à liberdade e ao respeito pela diversidade de ser e de amar, numa grande marcha que superou as expectativas. Viseu saiu do armário e o sentimento que fica depois deste dia é o de gratidão e de esperança. Agradecemos ao grupo LGBTI pela iniciativa e pelo louvável feito, e a todas as pessoas que saíram das suas casas neste dia importante e histórico em Viseu, em prol da igualdade, da defesa dos direitos humanos e do respeito e liberdade de todas as pessoas, no caminho para a transformação de consciências da sociedade portuguesa, onde se procura erradicar todas as formas de discriminação, para um mundo melhor!”
Carolina Almeida, PAN Viseu
Como Mãe Amplos foi um orgulho participar na Marcha de Viseu, como aliás é com orgulho que participo sempre que posso nas Marchas LGBTI. Acredito que a participação de Mães e Pais nestas marchas contribui para uma maior consciencialização de que não são só os jovens LGBTI que lutam para que haja igualdade entre todos, também nós querem o mesmo – que sejam felizes – e assim mostramos não só aos nossos filhos mas também aos outros jovens que os pais estão e estarão sempre ao lado deles!
A organização da Marcha está de parabéns pois ninguém diria que foi a 1ª!!! Todos sabiam o que fazer e como orientar o que demonstra muita responsabilidade por parte de todos os membros da organização. Que venham muitas mais que lá estaremos! Muitos Parabéns a tod@s !
Fátima Ferreira – Mãe AMPLOS
“Vivi em Viseu durante dois anos, de 2011 a 2013, altura em que fui viver para Lisboa. Nos dois anos em que lá estive deu perfeitamente para notar o ainda muito preconceito existente. Quando descobri que em 2018 se ia realizar, pela primeira vez, uma Marcha pelos Direitos LGBTI+ em Viseu, fiquei muito contente. Ponderei ir, sem grandes certezas, dada a distância e o preço dos bilhetes do autocarro.
Uns tempos depois, vejo num story do instagram de uma amiga minha de Viseu que algumas alminhas infelizes decidiram acrescentar em cartazes que diziam “Viseu a melhor cidade para se viver” colado por cima de um cartaz da Marcha, um homofóbico “mas sem vocês”. A revolta foi grande. Pedi autorização à minha amiga para fazer print e decidi divulgar na página do “Já Marchavas”, na minha página “Arquivo Sáfico” e no meu perfil pessoal. Decidi, também, que agora tinha mesmo de ir à Marcha e escrevi nas publicações que fiz a apelar a todos para virem, que comentários como este são a prova da necessidade de continuarmos a marchar.
Obrigada, homofóbicos que afixaram tão infeliz frase de ódio, porque foi graças a vocês que fiz parte do dia incrível que foi a 1ª Marcha LGBTI+ de Viseu. Ao contrário das minhas preocupações, correu tudo lindamente, tendo mesmo reparado em algumas pessoas que vinham no passeio a juntarem-se aos nossos cânticos. Algumas caras curiosas, alguns risos, mas nenhum insulto e quase nenhum olhar reprovador. (O único olhar reprovador que vi desvaneceu quando fiz questão de também olhar para a senhora que se aprontou a baixar a cabeça)
Quando chegaram os discursos, senti-me rodeada de ainda mais orgulho e muito amor, principalmente ao ouvir a Dona Eulália a falar de como descobriu que o filho era ator porno gay mas que depois de um grande choque foi à sua procura e todo o amor que sentia por ele prevaleceu e fortaleceu‑se. Depois de falar do seu filho, Eulália proferiu palavras de encorajamento para todos os presentes tendo-se tornado, naquele breve momento, uma mãe de todos nós. A multidão foi ao rubro, o ar enchia-se de amor e orgulho, compreensão e aceitação.
A divulgação que fui fazendo anteriormente da 1ª Marcha LGBTI+ de Viseu levou a que, para meu espanto, me contactassem do LGBTI Viseu a pedir o Logo do Arquivo Sáfico para adicionar ao comunicado de apoios de divulgação do Já Marchavas. Fiquei muito orgulhosa e agradecida, mas expliquei que não se tratava de uma organização e que eu era a única pessoa por detrás da página. Conto-vos isto como introdução à decisão que tomei de, no final de todos os discursos e agradecimentos da Marcha, ter-me dirigido à Ana Ferreira do LGBTI Viseu a pedir para tirarem uma foto comigo para uma publicação no meu blog. Novamente para meu espanto, ouvi as palavras “Olha o Arquivo Sáfico conseguiu vir” e fiquei muito contente por se lembrar e por terem sido todos bastante simpáticos e disponíveis.
A minha 1ª Marcha LGBTI+ de Viseu terminou, com muita simpatia, disponibilidade e sorrisos de alegria e orgulho! 💖🌈”
Fátima Cartaxo, Arquivo Sáfico
“A Primeira Macha LGBTIQ+ em Viseu, mostrou logo quando foi anunciada, que ainda há muito trabalho para fazer nesta cidade, que é apelidada como “a melhor cidade para viver”. Uns chamaram-lhe ” marchinha”, “falta de ego”, “uma chamada de atenção”, eu chamei-lhe “um grito à liberdade!” Foi um dia super importante, emotivo e com uma energia extraordinária! Penso que houve muita gente que antes da marcha se sentia sozinha ou incompreendida e que a partir daquele dia sentiu que fazia parte de algo! Espero que o dia 7 de Outubro de 2018 tenha retirado a “ferrugem” à alavanca do progresso de mentalidades, dado que, em pleno século XXI, assuntos como este nem deveriam ser assuntos, mas sim uma normalidade! “Não é preciso ser homossexual para não ser homofóbico”! VIVA O AMOR! “
Elsa Batista
“Numa cidade do interior, ver tanta gente, de todas as orientações sexuais, marcharem por mais liberdade, mais visibilidade e igualdade, foi surpreendente e incrível!”
Fátima Teles e Rita Cardoso
“No dia 7de outubro eu e alguns amigos decidimos participar na 1ºmarcha LGBTI de Viseu. Fomos a esta marcha especialmente não só para lutar pelos direitos das pessoas LGBTI como também pelo facto de este evento acontecer num distrito no qual temos noção que as pessoas desta comunidade sofrem muita discriminação visto que em zonas mais interior de Portugal é sempre mais patriarcal e retrograda. Admito que quando cheguei fiquei triste porque o ambiente estava vazia e com pouca gente no local de encontro, mas com o tempo a passar foi se enchendo de pessoas e tornou se um espaço onde o que prevalecia era o espirito de companheirismo e de empatia que havia entre membros desta comunidade e pessoas que se juntavam na luta pela igualdade de direitos.
No trajeto foram fortes os gritos feitos e sentia se a emoção transmitida através deles. Embora houvesse sempre quem olhasse de forma pejorativa, também podíamos ver pessoas que ficavam de coração cheio ao ver tanto jovens e pessoas que lutam por aquilo em que acreditam.
Uma das coisas que eu mais adoro nas marchas é reparar que embora maior parte dos indivíduos sejam adolescente e adultos LGBTI também conseguimos ver crianças com os seus pais e pessoas com uma idade mais avançada a lutar não só pelos seus próprios direitos, enquanto pertencentes à comunidade, como também lutando junto desta comunidade onde certamente familiares ou amigos estão inseridos. Para finalizar acho que devemos todos agradecer as pessoas que estiveram por trás deste evento fantástico que entregaram de corpo e alma para que este se realizasse.
Muito obrigado e espero que para o ano haja mais.”
Francisco Rocha
“Quando saí de casa no dia 7 de outubro de 2018 não sabia bem o que esperar. As reações negativas que tinha visto espalhadas pelas redes sociais ou materializadas em cartazes pela rua pairavam sobre mim enquanto caminhava até ao Jardim Sensorial de Santo António. Mas, ao chegar, vi-me no meio de um grupo que parecia não parar de crescer à medida que mais e mais pessoas iam chegando. Rodeada de arco-íris, sorrisos e motivação, a apreensão que sentira dissipou-se e deu lugar a esperança e energia.
Nesta tarde a diversidade, a liberdade e a luta inundaram as ruas e ouviu-se a multidão que a uma só voz gritou pela igualdade de direitos e de tratamento. “Nem menos, nem mais! Direitos iguais!”.
Quando a tarde chegou ao fim não pude deixar de sentir esta cidade mais minha, mais nossa. Existimos e amamos aqui, em Viseu, que sendo melhor cidade para viver, tem de o ser para todxs. É destas coisas que o caminho em direção à mudança e ao progesso é feito.
A 1. ª Marcha pelos Direitos LGBTI+ de Viseu foi mais um passo importante e marcante. Mas a luta continua.”
Sílvia Meneses
“A participação na Marcha começa ainda antes de “marchar”… nas reuniões e nas conversas, na partilha e até na festa. Foi surpreendente ver crescer o movimento, mas mais ainda foi emocionante o dia de ir para a rua! A 1.ª Marcha LGBTI+ de Viseu foi alegria, união, novidade, inclusão e tanto… tanto mais! Para mim foi um orgulho marchar ao lado de tantos rostos iluminados de felicidade, um encontro de gentes e de vozes que gritaram juntas e bem alto pela defesa em ser quem se quer e em amar com liberdade!”
Andreia Nisa
“Se há algo que esta Marcha mostrou foi que a realidade está a transformar-se aos poucos. Não posso deixar de sentir orgulho por todas as pessoas que se uniram para dar voz e corpo a marcha LGBTI de Viseu. Foi uma luta para fazer a diferença, pelas pessoas que têm de viver numa sociedade onde os valores e a conduta social ainda são da velha guarda. Onde a integridade pessoal dos homossexuais ainda é posta em causa. Mas irei deixar um testemunho sobre o dia sete de Outubro. Não foi uma passeata. Foram pessoas, indivíduos como eu e tu. Foi uma marcha de 1000.
Uma marcha de perseverante compreensão, uma rota com o sentido de estarmos num bom caminho. Marchar! Marchar! Foram 1000 que marcharam e que valeu a pena seguir sem medo. Estamos num bom caminho, esta marcha foi um reflexo de um coletivo que viu as suas boas escolhas numa marcha de 1000 pessoas, com a energia gerada naturalmente pelo corpo, mas também pela boa convicção de um futuro melhor. 1000 fizeram uma só voz entoar uma energia febril que espremida, fez de Viseu quase a melhor cidade para se viver. Esta marcha de 1000 fez os corações tremer os sentimentos e esculpiu-se uma obra de esperança, de oportunidade e de apoio a comunidade LGBTI+.”
Acácio Santos (Colectivo LGBTI Viseu)
As fotografias apresentadas nesta página, foram cedidas gentilmente à Associação LGBTI Viseu, para serem utilizadas na construção do site. Obrigada: Acácio Santos, Amanda Jús, Clara Duarte, John Cruz, Filipa Aguiar e Vânia Silva
Obrigada a todas as pessoas que colaboraram na execução desta Marcha e que ajudaram na divulgação da mesma, sem a ajuda de todas as pessoas ela não teria sido possível!